Um experiência história em um filme da Netflix

Eu nunca gostei muito da Netflix: layout confusão, o mecanismo de pesquisa não funciona direito, a associação entre os filmes (“se você gostou desse, vai gostar deste…”) não faz nenhum sentido, além, é claro, da classificação pelos gêneros (suspense, drama, comédia) ser extremamente frágil, para não dizer errônea. No entanto, eis que nos últimos tempos tive surpresas agradáveis no seu acervo, em se tratando de filmes. O objeto desta coluna é Um homem de sorte (2018), dirigido por Bille August, um longa dinamarquês muito interessante.

Seu enredo trata da vida do jovem estudante de engenharia Peter Sidenius, de família católica ortodoxa e pobre, em sua jornada em busca de ascensão social na Dinamarca nos fins do século XIX. Através dele acompanhamos não só a desigualdade social vigente na época e naquele lugar, mas também vemos um personagem extremamente complexo, ambivalente, contraditório, cujo egoísmo o faz subir e descer na roda da fortuna da vida.

Muito bem interpretado pelo ator Esben Jensen, que cativa pela intensidade com que encarna esse personagem, conseguindo transmitir as vontades, medos, angustias, desejos e preconceitos do jovem ambicioso que era, numa sociedade de vaidades e desigualdades. A fotografia do filme também está a serviço da verossimilhança. Um dos exemplos é a escuridão das cenas, já que estamos em uma época sem energia elétrica. Essa paleta escura também indica o modo de ser do próprio personagem, que carrega conflitos, principalmente religiosos e com o seu pai, desde a infância.

Muito bom filme de Bille August, que foge do óbvio e transmite uma experiência história autêntica numa era de personagens de plástico e filmes descartáveis. Disponível no Netflix.

Rodrigo Mendes