Ouvi dizer que o filme vencedor do Oscar 22, No ritmo do coração, dirigido por Sian Heder, não é tão bom assim. Bem, não vou entrar no mérito porque não o assisti, mas quero falar sobre a indústria cinematográfica americana.
A Academia, que organiza e presenteia os filmes com sua estatueta, se relaciona com essa indústria de uma forma vital. Ela indica e valoriza em geral filmes parecidos, diretores consagrados – às vezes nem tão bons assim –, compensa prêmios que não deu por atuações não merecidas (grande exemplo de Leonardo DiCaprio, que venceu por uma atuação completamente forçada e inverossímil em O regresso, sendo merecedor do prêmio em outros anos) e assim por diante.
Portanto, não devemos associar a premiação do Oscar à qualidade dos filmes e atores/atrizes e técnicos que vencem nas categorias. Uma indústria é um sistema de produção e consumo de objetos, nesse caso filmes. Não quero aqui cair numa simplificação barata de produção industria de cinema = filme ruim = sucesso de bilheteria. Quero é apontar que há, de fato, um sistema interligado de produção de filmes, telespectadores, exibição de filmes, crítica e premiação que é um sistema viciado.
Há exceções? Claro, e veremos agora ao comentar brevemente os vencedores do prêmio de Melhor Filme – que tem quase sempre 90% de seus candidatos como filmes nacionais americanos (por isso que há a categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, uma coisa que não faz o menor sentido).
Vou listar abaixo os vencedores da primeira década dos anos 2000, comentarei somente os que eu assisti, é claro, e vou comentar também os filmes que concorreram junto à estatueta.
Ano 2000: vencedor Beleza Americana (dirigido por Sam Mendes): ouço coisas boas desse filme, mas não vi. Concorreu com O sexto sentido, que é um bom filme de suspense.
2001: Gladiador (Ridley Scott). É um filme bom e nada mais. Vale ganhar a maior estatueta da Academia americana?
2002: Uma mente brilhante (Ron Howard). Concorreu com Senhor dos anéis: a sociedade do anel (Peter Jackson). O filme de Howard é um clichê barato sobre um cara muito inteligente. Não tem nada de interessante enquanto forma cinematográfica. Senhor dos anéis é infinitamente superior – e é o melhor da trilogia do Jackson.
2003: Chicago (Rob Marshall). Concorreu com O pianista, Gangues de Nova York e Senhor dos anéis: as duas torres. Ouvi também muita coisa boa sobre o filme de Marshall, mas não assisti. O pianista, de Roman Polanski, é sensacional, pesado, tenso e verossímil como um bom filme do Polanski pode ser. Gangues de Nova York reúne atores bons num filme fraco do Scorsese, nem devia estar concorrendo.
2004: O senhor dos anéis: o retorno do rei. Concorreu com Encontros e desencontros. Vendeu pelo conjunto da obra, muito boa para uma saga de aventura que tende a ser boba. No entanto, enquanto filme, perde para o muito bom Encontros e desencontros da Sofia Coppola.
2005: Menina de ouro. Concorreu com O aviador. Esse é complicado, porque vi faz tempo o vencedor, longa de Clint Eastwood. Scorsese está muito bem n’O aviador, filme que retrada uma história real do neurótico e famoso diretor de cinema Howard Hawks, diretor do primeiro Scarface.
2006: Crash – no limite (Paul Haggis). Concorreu com O segredo de Brokeback Mountain. Não assiti Crash. Seu concorrente é um bom filme, mas sem tutano para prêmio principal.
2007: Os infiltrados. Concorreu com Babel, Pequena miss sunshine e A rainha. Destes citados, é de fato o melhor filme. No entanto, não é nem de longe o melhor do Scorsese. Babel é interessante, faz parte da trilogia do caos do Iñárritu, e os outros são bons filmes, nada mais e certamente não mereceriam estar na categoria principal.
2008: Onde os fracos não têm vez. Concorreu com Sangue negro e Juno. Aqui valeu o prêmio, é o melhor filmes dos citados aqui – falo dos que assisti, é claro – talvez só comparável ao seu concorrente, Sangue Negro (Paul Thomas Anderson). O filme dos irmãos Coen é diferente, violento e lento, com grande caracterização de personagem e direção, com aspectos fílmicos como direção de fotografia e mixagem de som muito boas, que se relacionam em prol do filme, além de tratar, através do filme, da passagem do tempo e da mudança da violência no sul estadunidense. E Sangue Negro é um baita filme também, com uma atuação estupenda do grande Daniel Day Lewis, talvez um dos melhores do diretor, que junto dos irmãos Coen fazem parte da primeira prateleira de diretores, ao menos americanos, a produzirem filmes contemporaneamente.
2009: Quem quer ser um milionário? (Danny Boyle e Loveleen Tandan). Filmeco, nada demais para sequer concorrer ao prêmio, quiçá para ganhar a estatueta. Danny Boyle já fez filmes interessantes, como Trainspotting, mas nesse aqui não empolga em nada.
Bem, na próxima coluna, em quinze dias, vou concluir a lista até nossos dias para analisarmos essas indicações.
O argumento geral do artigo é indiscutível (“um sistema interligado de produção de filmes, telespectadores, exibição de filmes, crítica e premiação que é um sistema viciado.”), mas, tipo, metade dos filmes a pessoa não viu… É o Zizek, escrevendo em português? Que post estranho, gente haehaehaehea