Movimento em defesa da Restinga e da comunidade de Zacarias segue mobilizado

Por Repórter Popular – Maricá

No último sábado (24/09) dezenas de moradores de Maricá, artistas, pesquisadores, pescadores, professores e ambientalistas participaram da II Ocupação cultural na comunidade de Zacarias. No ano passado, a comunidade já tinha organizado a I Ocupação Cultural.

A ocupação tinha como objetivo defender o território da comunidade pesqueira de Zacarias e a Restinga de Maricá, ameaçada pela empresa Iniciativas e Desenvolvimento Imobiliário – IDB Brasil. A IDB vem movendo imensos recursos jurídicos, financeiros e políticos para construir um resort de luxo, com campos de golfe, hotéis e lojas de alto consumo na Área de Proteção Ambiental de Maricá (APA). A prefeitura de Maricá apoia o projeto com o argumento de que esse vai gerar inúmeros empregos. Os ativistas e moradores questionam o empreendimento e apontam que o número de empregos será muito menor do que o planejado e o impacto social e econômico aprofundará a desigualdade social e a gentrificação.

Roda de conversa debateu os impactos do empreendimento do Resort.

A obra destruirá uma superfície ambiental protegida de 148,43 hectares, o que equivale a 15 campos de futebol e construirá um bairro de ricos, afastando as pessoas de menor poder aquisitivo da Lagoa e da Restinga. O efeito no bolso dos assalariados também é previsto, com o aumento no valor dos aluguéis (por conta da especulação imobiliária) e dos preços ao redor do empreendimento, tendo em vista que o público do Resort será de alto poder aquisitivo.

No ano passado, em meio às batalhas judiciais, a inauguração da pedra fundamental do empreendimento contou com a presença do prefeito Fabiano Horta, o atual governador e candidato a reeleição Cláudio Castro e empresários do Maraey. Cláudio Castro está envolvido em denúncias de corrupção envolvendo o CEPERJ e foi acusado em 2020 de receber 100 mil reais de propina de um empresário.

Ocupação cultural foi marcada por discursos contra o empreendimento

A ocupação cultural começou na parte da manhã, na sede da Associação Comunitária de Cultura e Lazer dos Pescadores Zacarias (Acclapez). Os participantes fizeram um trilha guiada na Restinga, com a presença de um professor especialista. A ocupação também recebeu doações de livros para a montagem da biblioteca comunitária de Zacarias, que ainda não foi oficialmente inaugurada.

Parte da biblioteca que está sendo organizada pela Associação.

No meio da tarde, uma pausa para um almoço típico da comunidade, realizado pela Associação. Depois do almoço os participantes realizaram uma roda de discussão sobre os próximos passos do movimento. Com falas emocionadas de pescadores e lideranças comunitárias, muitos colocaram que durante o processo de luta sofreram tentativas de cooptação da empresa e ameaças anônimas por telefone. Ao fim da roda de conversa, os/as participantes prometeram intensificar a organização da defesa da Restinga e a conscientização da população local.

Almoço na associação.

O evento terminou com um Sarau cultural com a presença de artistas locais e de fora da cidade. Músicas, poesias e um samba animaram e deram mais força aos moradores que participam dessa luta. A comunidade de Zacarias e a Restinga resiste, à despeito dos grandes interesses milionários que as ameaçam.