Contra o retorno das aulas presenciais, educadores fazem mais um ato em Maricá

Na manhã quente deste domingo (06/09), o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE) – Maricá realizou um ato simbólico contra o retorno das aulas presenciais. O ato foi realizado na praia de Itaipuaçu, na altura da rua 01 e contou com a presença de professores da rede estadual e municipal, contrários ao retorno das aulas estaduais. Dezenas de cruzes foram fincadas na areia e uma faixa foi estendida.

O governo do estado do Rio de Janeiro autorizou o retorno das aulas no dia 05 de outubro, contrariando as recomendações dos órgãos científicos e médicos e obrigando trabalhadores da educação, alunos e familiares a se exporem ao corona vírus nas unidades escolares do estado. A orientação do secretário de educação do estado do RJ, Pedro Fernandes é o retorno dos alunos que não possuem acesso a internet e a reabertura nos municípios na condição de bandeira amarela. Na prática, o secretário irá obrigar o retorno massivo dos alunos da rede estadual, tendo em vista que a maioria não consegue acessar as plataformas de interação remota por não terem internet ou internet de qualidade. 

Já na rede municipal de Maricá, a secretaria de educação de Maricá não indicou nenhuma data de retorno às aulas presenciais, mas muitos educadores estão preocupados com a abertura do comércio, bares e lojas da cidade de Maricá e as eventuais pressões para o retorno presencial. Além disso, educadores municipais ressaltam que estão sendo consultados nas escolas, sobre eventuais condições de saúde, o que causa apreensão na categoria em relação a um possível planejamento de retorno ainda este ano. Muitos professores da rede municipal são de outros municípios e possuem parentes com condições de saúde em risco.

Durante o ato, muitas pessoas se aproximavam da faixa e das cruzes, colocadas para lembrar das centenas de milhares de mortos pelo Covid-19 e apoiavam a iniciativa do SEPE – Maricá. A cidade de Maricá registra segundo dados oficiais da própria prefeitura, 106 óbitos (25 óbitos em análise) e 3522 casos confirmados. A cidade registrou aglomerações em praias e espaços públicos nos últimos finais de semana com rara fiscalização.

A coordenadora do SEPE – Maricá, Jaqueline Pinto afirmou que o “ato simbólico que fizemos hoje tinha como objetivo alertar a população sobre o perigo que a voltas as aulas, antes que a epidemia esteja controlada, representa”. A prefeitura de Maricá ainda não marcou data para o retorno, porém, também não descartou, como outros municípios já fizeram, o retorno ainda este ano. Na rede estadual as aulas recomeçam no dia 5 de Outubro. Consideramos esse retorno um grave erro que pode custar muitas vidas.”

Perguntada sobre quais seriam os impactos de um retorno precipitado às aulas presenciais, a professora e integrante do SEPE afirmou que “no estado do Amazonas, por exemplo, em apenas 15 dias de aula, mais de 300 professores se contaminaram. Os números de contaminação e mortes do estado do Rio continuam altos. A taxa de ocupação dos leitos aqui em Maricá já está em 65%. Abrir as escolas nesse cenário é promover um genocídio.”

Cruzes na praia de Itaipuaçu. Foto: Rafael (militante da pró-Resistência Popular Sindical – RJ)

Diversos sindicatos da região são contrários ao retorno das aulas presenciais. Em ato realizado no dia 02 de setembro, o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE), Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região (SINPRO) e o Sindicato dos Profissionais em Educação do Município de Maricá (SINEDUC) reafirmaram posição contrária ao retorno das aulas presenciais. Em manifesto, esses sindicatos afirmam que “não podemos admitir que pressões políticas e econômicas desconstruam a natureza da escola e de nosso trabalho, precipitando um retorno não orientado pelas agências científicas nacionais e internacionais.”

A ação dos educadores de Maricá portanto, reafirma o direito à vida de pais, mães, filhos e filhas e profissionais da educação, contra os mesquinhos interesses daqueles que são favoráveis a reabertura escolar. A luta dos educadores se inscreve no contexto de luta pela educação, pela vida e por dignidade. 

Texto de Rafael  (militante da pró-Resistência Popular Sindical – RJ)