Café e memórias: os 5 anos do encantamento do lutador Dito

…põe a semente na terra não será em vão, não te preocupes com a colheita, planta para o irmão

– cancioneiro popular das Comunidades Eclesiais de Base

Há cinco anos, em 23 de fevereiro, o companheiro Benedito Clóvis da Silva, o Dito, fez sua passagem deste mundão. Suas memórias, suas lutas e seus ideias, porém, seguem conosco, encantando quem o conheceu e, também, quem não teve a oportunidade em conhecê-lo em vida, mas que aprende com ele diariamente.

É Dito quem dá nome a Biblioteca Comunitária do bairro Itinga, em Joinville, bairro onde viveu. Para comemorar sua vida, o espaço fará mais uma atividade em seu nome: o café e memórias dos 5 anos de encantamento do Dito. É neste sábado, dia 10, às 9h. Todas as pessoas são convidadas a compartilhar suas memórias com Dito e fazer a partilha do alimento.

Para dar o pontapé inicial, compartilharmos a lembrança da companheira Sara Silva, cria das lutas comunitárias do bairro Floresta, trabalhadora no comércio, integrante do Baque Mulher, grupo de maracatu de mulheres:

É, para mim, muito difícil de descrever em palavras, toda essa admiração, mas vou tentar.

No ano de 2015, conheci o companheiro Dito. Um senhor barbudo, grisalho, muito tranquilo, que estava a fazer a pintura das paredes do CDH, Centro dos Direitos Humanos de Joinville.

Semanas depois, fui convidada a participar das reuniões do CEBI, Centro de Estudos Bíblicos, que era um grupo de estudos de leitura popular da Bíblia. Grupo esse que Dito integrava. Ele era um grande estudioso popular.

Nesses encontros, fui conhecendo melhor o grande companheiro Dito. Construí ali uma grande admiração e carinho pela sua história e sua pessoa.

Dito, era homem de fala mansa, que ouvia mais do que falava. Isso por si só, diante de tanto conhecimento que ele tinha, seja sobre a leitura popular bíblica, movimentos sociais, ou o trato com a terra, já o fazia grande, porque só as pessoas muito generosas, realmente conseguem fazê-lo.

Ele tinha um jeito muito especial, de nos fazer sentirmos acolhidos e sempre encoraja nossas falas e, assim, todos a sua volta sentiam que eram peças importantes ali. Esta inclusive, era uma das coisas que eu mais observava no companheiro Dito. Como mesmo quando ele discordava da fala de alguém, ele conseguia de forma amorosa convidar a pessoa à reflexão, de forma sutil e muito humilde. Ele era cuidadoso, inclusivo com as crianças, de uma forma muito genuína.

Um homem simples, com uma vivência gigante. Era muito bom e revigorante estar na presença dele.

Eu, especialmente, consegui fazer laços da minha infância com a vida adulta; nos primeiros anos da década de 1980, as experiências que tive ainda muito criança, com meus avós que trabalharam muito com as CEBs. Eu conseguia ver nele um passado, novinho em folha, com a esperança renovada, um homem que era da luta, sem perder a doçura e a fé em um mundo com vida digna para todas as pessoas.

Sabe, não tenho dúvidas, Dito deixou muitas sementes em muitos corações.”