Ato na UFSC defende fim do agendamento e ampliação do RU

Por Repórter Popular – SC

Hoje foi mais um dia significativo na luta do movimento estudantil em Florianópolis. Estudantes se organizaram para promover um ato que reivindicou melhores condições de alimentação e permanência na universidade. Essa movimentação está inserida em um conjunto de lutas que têm sido travadas pelas estudantes no contexto de retomada das atividades presenciais na UFSC e que têm como pauta principal a importância do Restaurante Universitário (RU), que é a principal política de assistência estudantil na universidade.

Desde março a Associação de Pós-Graduandas e Pós-Graduandos (APG) da UFSC tem organizado ações no sentido de reivindicar a reabertura do RU, uma vez que o restaurante ficou fechado durante a pandemia de Covid-19. Nesse primeiro momento, vitórias parciais foram alcançadas, como a reabertura do RU para a pós-graduação ainda durante o mês de março, e a reabertura gradual do RU para estudantes da graduação, no início do mês de abril. Entretanto, junto da reabertura do RU para estudantes de graduação, a administração central da universidade impôs uma nova ação de controle por meio da política de agendamento de refeições.

A nova política de agendamentos, em teoria, funciona da seguinte maneira: estudantes devem agendar suas refeições por meio de um sistema on-line, com hora e data da refeição estipuladas, e só podem se alimentar no RU se tiverem realizado o agendamento prévio no sistema. Um detalhe importante é que o sistema só libera o agendamento até, no máximo, o dia seguinte, de maneira que estudantes tenham que agendar diariamente suas refeições. Essa política foi implantada inicialmente apenas para estudantes da graduação, quando o RU passou a atender esses estudantes no início do mês de abril. A partir do fim de abril, porém, a política de agendamento foi ampliada e tornou-se obrigatória para todas as estudantes que quiserem se alimentar no restaurante universitário.

A justificativa dada pela administração central para a imposição de tal sistema é de um suposto maior cuidado sanitário, considerando que ainda enfrentamos a pandemia de Covid-19, além de uma preocupação com o desperdício de comida. Entretanto, a realidade dos fatos não aponta para a funcionalidade do sistema de agendamentos como solução para ambos os problemas. Em primeiro lugar, o RU continua superlotado de pessoas durante os horários de pico, que acontece geralmente entre o meio dia e as 13 horas. Antes da pandemia, a estrutura física do restaurante já não comportava a quantidade de pessoas que precisavam fazer uso do espaço todos os dias, gerando longas filas e muita espera. Agora a situação está ainda pior, pois a quantidade de estudantes que circulam diariamente pelo campus Trindade na UFSC aumentou em decorrência das diferentes circunstâncias que impediram que muitas estudantes encerrassem seus estudos durante a pandemia, algo que se soma à quantidade de estudantes que ingressaram na universidade a partir do início do primeiro semestre letivo de 2022.

Com relação ao desperdício, o movimento estudantil entende que é um cuidado importante para ser levado em conta. Contudo, a partir da reabertura do restaurante universitário para estudantes da pós-graduação, ainda em março, o que se viu foi a falta de comida, em lugar do desperdício. Em diferentes dias, estudantes que chegavam para jantar no RU recebiam a informação de que as marmitas haviam acabado e que não haveria refeição para o jantar. Sabe-se que há outras maneiras de controlar o desperdício de comida, como o desperdiçômetro, que funcionava no RU desde o ano 2017, e calculava a quantidade de alimentos descartados diariamente no restaurante universitário da UFSC. Essa é uma política importante, que conscientiza as estudantes sobre o desperdício, em lugar de impor mais burocracia para a alimentação na universidade.

É nesse contexto de maior controle e burocratização que estão inseridas as movimentações que tomaram lugar durante o dia de hoje, 5 de maio, no campus da UFSC que fica na Trindade. Numa ação conjunta puxada pelo Diretório Central das Estudantes (DCE), pela Associação de Pós-Graduandas e Pós-Graduandos (APG) e por diferentes Centros Acadêmicos, estudantes estiveram em frente ao RU durante o horário do almoço com ações de panfletagem, denunciando a política de agendamento, que tornou-se mais uma forma de exclusão de direitos já conquistados.

Além das estudantes da UFSC, somaram-se ao ato estudantes da UDESC, que também estão em luta por melhores condições de alimentação. Na UDESC, estudantes estão enfrentando difíceis negociações com a reitoria, que se exime de oferecer subsídio para diminuir o preço das refeições no restaurante universitário da universidade estadual, além do fato de o restaurante ainda estar fechado, mesmo com o retorno das atividades presenciais. Os técnicos administrativos em educação (TAEs) da UFSC, que estão em greve há um mês, também se somaram ao ato estudantil e trouxeram instrumentos para contribuir com a agitação, além de também demonstrarem suas reivindicações com relação à alimentação no RU, já que a administração central avalia a possibilidade de aumentar o preço das refeições para os TAEs.

Assim, com todas essas forças unidas, o ato aconteceu em diferentes lugares no campus da Trindade: a concentração foi iniciada em frente ao restaurante universitário, com panfletagem para quem estava na fila, e falas das entidades que ali estavam presentes. Em seguida, a movimentação foi conduzida para dentro do RU, com palavras de ordem e cantos que resumiam a indignação, como “o RU é um direito, pelo fim do agendamento”. Na sequência, estudantes e técnicos administrativos seguiram em marcha para o prédio da reitoria, com a intenção de entregar uma carta de reivindicações para o reitor Ubaldo Balthazar.

Porém, qual não foi a surpresa das estudantes quando, ao chegarem no gabinete da reitoria, foram informadas de que o reitor não estava presente, pois havia saído para almoçar. Esse momento foi simbólico por si só, pois enquanto estudantes e TAEs lutavam por condições mínimas de acesso digno ao RU, o reitor nem sequer encontrava-se na universidade, algo que demonstra a brutal diferença das condições de vida entre aqueles que administram a universidade pública e aquelas que precisam dela para sobreviver diariamente. Mesmo com a ausência do reitor, o movimento entrou no gabinete da reitoria e foram feitas falas de indignação e revolta com a situação, que foram também resumidas nas seguintes palavras de ordem: “cadê o reitor? Foi almoçar, ele não precisa agendar”.

Com a ausência do reitor, que impossibilitou a entrega das reivindicações sobre o RU, a saída foi indicar uma nova data de mobilização, que acontecerá na próxima quinta-feira, 12 de maio. A intenção do movimento é dialogar diretamente com o reitor e o pró-reitor de assuntos estudantis, de maneira a expor a não-funcionalidade do sistema de agendamentos, reivindicar sua extinção imediata, além da ampliação da estrutura física do restaurante universitário. Tais reivindicações colocam-se na contramão da ampliação de políticas de controle que são excludentes dentro da universidade pública.

A mensagem do ato é que estudantes precisam de condições dignas de alimentação e permanência para estar na universidade, exigem que suas vozes sejam ouvidas e, por isso, seguirão em luta.