A arte denuncia os riscos da mineração no Rio Grande do Sul

Neste fim de semana aconteceu a performance de dança “Água Viva”, uma dança-manifesto sobre a importância das nossas águas e os riscos da mineração para o meio ambiente. A peça chama a atenção para o fato especialmente em virtude do processo de licenciamento adiantado para a construção da maior mina de carvão a céu aberto da América Latina – a Mina Guaíba, que pode ser instalada entre Eldorado do Sul e Charqueadas, a 16Km de Porto Alegre a 1500 metros do Rio Jacuí e a 250 metros da área de Proteção Ambiental do Delta do Jacuí.

A performance

Realizada pelo Projeto de extensão da UFRGS Dança, Educação Somática e Criação (DESC), e integrando as ações do projeto “Global Water Dances”¹, a performance ocorreu na Ilha da Pintada, bairro Arquipélago de Porto Alegre. Uma ilha no centro da performance com cascas de arroz orgânico e vegetação e o Rio Jacuí ao fundo: este foi o cenário. Com a participação de crianças da comunidade, a performance recriou o perigo da mineração com carvão e fumaça, assim como o contraponto de resistência da vida das águas através do movimento de bailarinas e bailarinos.

A Mina Guaíba é um risco à vida

O projeto, se for consolidado, ocupará uma área de 4,5 mil hectares e deve impactar a vida de 4, 3 milhões de pessoas. Como a instalação será feita em terreno alagadiço, ambientalistas afirmam que não há garantias de segurança, podendo haver rebaixamento do lençol freático e desvios de cursos de rios. O Rio Jacuí, que ficará muito próximo à possível mina, é o principal responsável pela água que chega ao Rio Guaíba e é o único afluente com água limpa – o que significa ser uma futura alternativa para a captação de água da capital gaúcha, conforme planos em curso. Além do imapcto em milhões de pessoas de forma direta e indireta, o projeto irá remover centenas de famílias agricultoras, do terceiro maior produtor de e arroz orgânico dos assentamentos do MST.

A empresa responsável, Copelmi Minerações, tem buscado seduzir políticos e imprensa falando na geração de cerca de 200 empregos a mineiros. Segundo Francisco Milanez, presidente da Agapan (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural)², que conversou com o público ao final da performance, é preciso lembrar dos impactos incontornáveis da mineração sobre todos nós, especialmente diante do potencial gaúcho para criação de energias alternativas (eólica e solar). O ambientalista ressaltou ainda que se trata dos interesses de uma empresa privada que está se sobrepondo ao interesses e necessidades de toda população que sequer tem informações sobre o que se passa.

Vale lembrar que vivemos tempos que comprovam a omissão e corresponsabilidade do Estado em desastres ambientais causados por empresas privadas do ramo, vide os crimes ambientes da Vale do Rio Doce. No Rio Grande do Sul, o governo gaúcho está articulando com rapidez a privatização da CRM (Companhia Riograndense de Mineração), o que irá implicar em ainda menos controle público sobre a exploração e os impactos ao meio ambiente.

Ao final de sua fala, o presidente da Agapan pediu aos presentes que se engajem na luta, ocupando inclusive as ruas. Movimentos populares, sociedade civil organizada e comunidades em conflito já afirmaram sua preocupação e disposição para a luta para defender o meio ambiente e uma vida saudável em assembleia popular ocorrida em 11 de junho³.

Referências:
1. http://globalwaterdances.org/
2. http://www.agapan.org.br
3. “Resistência popular é a única que pode barrar a mineração no RS”, matéria do IHU: http://www.ihu.unisinos.br/590035-resistencia-popular-e-a-unica-que-pode-barrar-a-mineracao-no-rs