Por Repórter Popular – PR
Memória e justiça para as vítimas da violência policial. Foi com o objetivo de debater sobre esse assunto que a Rede Nenhuma Vida a Menos organizou e promoveu o 1º Encontro de Enfrentamento à Violência Policial do Paraná, no último sábado (26), em Curitiba (PR), na Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O evento teve início às 9h, em um anfiteatro da reitoria da UFPR, e foi aberto ao público. Impulsionado por familiares de vítimas da brutalidade policial que compõem a Rede Nenhuma Vida a Menos, o encontro teve o tema “Quem nos cuida da polícia?” e apresentou três mesas de debate.
Na abertura, foram apresentados os temas do evento e exibido um vídeo contando a história da Rede Nenhuma Vida a Menos. Na sequência, houve apresentações artísticas das poetas Preta Macário e Céu Aires.
A primeira mesa, intitulada “Letalidade Policial no Paraná: aqui a morte veste farda”, abordou os dados mais recentes da violência policial no estado do Paraná. Participaram da mesa Suzete Zaíra dos Santos (membro da Rede Nenhuma Vida a Menos e mãe de Ruhan Luiz, jovem assassinado pela Polícia Militar em 2018), Renato Freitas (Deputado Estadual – PT) e Katie Arguello (Professora e Coordenadora do Núcleo de Criminologia do PPGD/UFPR e membro da Frente Estadual pelo Desencarceramento do Paraná), com mediação de Lucas Jeison (Rede Nenhuma Vida a Menos).
Foi durante essa primeira mesa que um homem, que se apresentou como advogado criminalista da polícia, pediu um espaço de fala e tentou causar um tumulto no encontro. Sem sucesso em seu discurso, que não abordava nenhum dos temas propostos pelo evento, o advogado retirou-se do encontro.
Após a situação, que durou cerca de 10 minutos, houve uma apresentação da poeta Jacquelivre e seguiram as reflexões sobre o real tema do evento: o terrorismo de Estado. Somente no ano de 2022, pelo menos 483 pessoas foram assassinadas pela polícia paranaense, de acordo com balanço do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Em 2021, foram 408 vidas exterminadas pelo Estado, o que revela um aumento alarmante da letalidade policial no Paraná.
A segunda mesa, intitulada “A Luta Histórica Contra a Violência de Estado: todo camburão tem um pouco de navio negreiro”, debateu a luta histórica do povo preto e periférico contra o racismo das polícias e o fracasso da guerra às drogas. Compuseram o debate Claudmir Ferreira do Nascimento (membro da Rede Nenhuma Vida a Menos e pai de Willian Lucas, assassinado pela polícia em 2021), Fransérgio Goulart (Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial – IDMJRacial) e Guilherme Romão (Coletivo Negro Minervino de Oliveira), com mediação da Márcia Regina Santos (Rede Nenhuma Vida a Menos).
Segundo o censo de 2022, 58% das vítimas da letalidade policial no Paraná eram pardas ou negras.
Já a terceira e última mesa, “Do Luto à Luta: resistência de familiares como forma de justiça e memória”, contou com a participação de mães e pai de vítimas da violência policial. Os familiares relataram a forma como seus filhos foram brutalmente assassinados pelo braço armado do Estado e como está a luta por reparação na justiça.
Participaram dessa última mesa os familiares representantes dos movimentos Justiça por Almas (Londrina), Luto, Luta e Justiça (Curitiba), Mães do Cajuru (Curitiba), Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas de Terrorismo de Estado (Nacional) e Rede Nenhuma Vida a Menos (Curitiba), com mediação da Patrícia Herman (Rede Nenhuma Vida a Menos).
O encontro também contou com um memorial de fotos das vítimas da polícia do Paraná e apresentou uma série de vídeos com relatos, principalmente de mães que desabafaram sobre a dor de perder um filho para a violência policial e como é árdua a luta na justiça. O evento foi finalizado por volta das 17h30 com o encerramento dos debates.
Em tempo: embora um veículo da mídia local tenha divulgado erroneamente que o encontro se resumiu apenas a um “bate boca” e tenha afirmado que o mesmo foi organizado pelo deputado Renato Freitas (PT), a informação correta é que o 1º Encontro de Enfrentamento à Violência Policial do Paraná durou mais de 8 horas, com debates relevantes à toda sociedade, e foi organizado exclusivamente pela Rede Nenhuma Vida a Menos, movimento construído por sobreviventes, familiares das vítimas e militantes, independente de partidos eleitorais.
O que é a Rede Nenhuma Vida a Menos?
“A Rede Nenhuma Vida a Menos é um movimento, fundado na cidade de Curitiba em 2019, que se organiza na luta contra a violência policial, as violações de direitos e os crescentes ataques das forças de segurança do Estado à população pobre da nossa região, que atinge especialmente jovens negros e periféricos”, conforme descrição do movimento em suas redes sociais.
A Rede Nenhuma Vida a Menos atua na divulgação e acompanhamento de casos de brutalidade policial do Paraná, construindo em conjunto com os familiares das vítimas mobilizações por justiça, reparação e memória, fortalecendo a solidariedade entre as pessoas que foram alvo de terrorismo do Estado.
Para entrar em contato, envie uma mensagem pelo Instagram ou Facebook.
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