O Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) iniciou oficialmente no dia 1º de agosto. Com 2 anos de atraso devido ao corte de verbas do governo federal e com orçamento reduzido para a realização do Censo. Nesse ano, com valor de 26% a menos do que o estimado, a operação só ocorreu devido a determinação do STF. O reflexo do sucateamento da operação gigantesca que é o Censo Demográfico, que percorre todo o território nacional ocasionou num déficit de trabalhadores/as que supera a última edição.
Após um mês de trabalho, cerca de 200 mil profissionais que trabalham na coleta, entre eles/elas, recenseadores/as, supervisores/as e agentes municipais e regionais, relatam a falta de informações e precarização do trabalho. A maior parcela desse/as trabalhadores/as são recenseadores/as, que fazem o trabalho de coleta diretamente com a população. Na internet, há relatos de diversos casos de ameaças, abusos e situações extremas de violência que tem sido vivenciado cotidianamente. Segundo o recenseador da cidade de Jaguarão, que preferiu não se identificar “A falta de divulgação tanto na grande mídia, quanto nos veículos locais, além de diversas fake news que circulam, é um dos grandes problemas, pois ocasiona na resistência e receio da população em responder o questionário. Essa falta de reconhecimento do trabalho do recenseador, faz com que passamos por diversas situações de insultos e humilhações”.
Além da falta de comunicação externa, o IBGE enfrenta diversos problemas de comunicação interna, como relata o Agente Censitário Supervisor de São Paulo: “A falta de informação da galera internamente é muito grande, nem os superiores sabem o que vai ocorrer, prazos e cobranças pra conseguir suprir a falta de funcionários, tá faltando gente, e todo mundo tem que trabalhar em dobro por isso, muita gente desistindo…”.
Para os/as recenseadores/as, essa falta de comunicação reflete em diversas inseguranças sobre o processo, desde informações de metas e prazos sobre os pagamentos. Já no treinamento realizado antes de iniciar o trabalho em campo, houve o atraso da ajuda de custo para os/as trabalhadores/as, e alguns ainda aguardam o pagamento. Sobre os valores, há uma grande defasagem em relação ao simulador disponibilizado no site do IBGE, além disso, a tabela de remuneração por domicílio e questionário, se manter praticamente a mesma em relação aos valores da operação do Censo Demográfico de 2010.
Esse trabalho que mobiliza mais de 200 mil pessoas, além de ser temporário, é baseado na produtividade, segundo o recenseador de Jaguarão “Existe uma cobrança que não nos foi passada no treinamento, que é a novidade da meta de 2% a 5% de ausência e recusa para concluir o setor, e só assim receber o valor completo pela área. Só que essa taxa que veio de cima, é praticamente impossível de cumprir, tanto pela resistência da população, quanto situações em que pessoas viajam, se mudam, além de falecimento, já que o IBGE usa a data de referência do dia 31 de julho, 1º de agosto para fazer a coleta”. Ainda completa “Não existe ainda nenhum tipo de auxílio alimentação, além dos valores do deslocamento estarem defasados, a exemplo da nossa cidade que é menor, o deslocamento é pago somente na área rural. Há muitos relatos de pessoas pagando para trabalhar, já que o auxílio nas cidades maiores está sendo pagos com atraso”.
Diante dessa situação da precarização do trabalho no Censo Demográfico 2022, nesse dia 1º de julho está sendo convocada pela União Nacional dos Recenseadores a Greve Nacional da categoria. Na maioria dos locais os/as trabalhadores/as que estão mobilizando, haverá a paralização e atos em frente às Unidades Estaduais do IBGE e em locais estratégicos das cidades. As pautas e reinvindicações são:
- Correção das taxas que estão defasadas;
- Ajuda de custo com alimentação;
- Aumento de 20% das taxas de recusas e ausências;
- Retirada da obrigação de retorno após a 4ª tentativa;
- Aumento de 50% para 80% o adiantamento do setor até o final do mês;
- Calculadora do IBGE para dar transparência quanto vamos receber;
- Pagamento do transporte atrasado;
- Pagamento de todos os débitos atrasados.