No dia 11 de agosto de 2020, a Comissão de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UNESP suspendeu o vestibular que ofertava vagas para o curso de Geografia do Campus de Ourinhos. O Prof. Edson Luís Piroli, atual diretor da unidade, primeiro foi informado extraoficialmente após a tomada de decisão ocorrida em reunião fechada do órgão colegiado central da Universidade sem a presença de representantes do campus.
A suspensão se respalda em um relatório – que contém alguns dados atuais e a história do campus – enviado ao Conselho Universitário no dia 06 de fevereiro, redigido pelos professores da unidade e assinado pelo Conselho de Curso de Geografia e pelo Conselho do Diretor. O Documento apresentava também três propostas: de transferência do curso de Ourinhos para algum outro Campus consolidado, a admissão de transferência interna de cursos para estudantes e a transformação do campus em um polo tecnológico.
Esses pedidos contrariam a demanda de trabalhadores e a quase unânime vontade estudantil. Estes dois setores enviaram juntos cartas ao Conselho de Curso de Geografia e ao Conselho Universitário que, somado com mobilização antes do isolamento social, conseguiram reverter a decisão apenas no primeiro conselho. Além dessas manifestações recentes, o histórico do campus da UNESP de Ourinhos conta com um legado de lutas expressivo, tanto na cidade quanto na universidade, sendo a consolidação do campus a principal e mais antiga reivindicação de estudantes.
A decisão da CEPE não atendeu a nenhum pedido recente de diálogo da comunidade acadêmica, tomando essa decisão que se alinha aos projetos da reitoria da UNESP e do Governo do Estado de SP. Há muito o curso estava ameaçado de ser cortado e, em 2016, a UNESP adota como norte administrativo o fechamento de cursos que não preencham todas as vagas oferecidas anualmente, alegando que há falta de interesse da comunidade em ingressar nesses cursos.
O histórico da taxa de ingresso pelo vestibular no curso de Geografia do campus de Ourinhos na seleção de 2019/2020 foi de 95% de preenchimento das vagas. Uma porcentagem bastante expressiva que é desprezada no documento enviado ao C.O no dia 06 de fevereiro. Essa taxa se deve a nova possibilidade do uso da nota da prova ENEM para concorrer às vagas nos períodos diurno e noturno.
As consequências da decisão da CEPE e da reitoria da UNESP é o fechamento do curso em poucos anos, estimulando desde já que estudantes matriculados evadam do curso com as incertezas sobre seus futuros. Também a reorganização de funcionários, professores e estudantes em outros municípios, gerando implicações nas famílias dessas pessoas. O município de Ourinhos também perde com essa decisão e por isso é contra o fechamento do curso de geografia, tendo se manifestado já em 2018 quando a pauta contra o fechamento do campus ganhou evidência por manifestação estudantil.
O campus da UNESP de Ourinhos oferecia ao município e região o cursinho popular pré-vestibular do CACU-O que já teve cerca de 200 alunos matriculados gratuitamente, mas que no início deste ano teve a verba cortada pela reitoria, culminando no fim do projeto de extensão. Possuía 48 bolsas de Projeto Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) que estabelecia relação mutualista na formação dos secundarista das escolas estaduais e dos universitários graduandos em licenciatura, além de um suporte substancial para os professores no município. O CENPEA, com seu amplo processo de educação ambiental, com projetos no parque ecológico de Ourinhos; o EDUCA GEO, com a participação dos discentes da universidade em projetos com as escolas. Além de inúmeras pesquisas de monitoramento de queimadas, qualidade da água, na cultura e formas de organização social do município.
Estudantes do curso de geografia buscam agora apoio para sua luta e levantam a bandeira da defesa da educação pública, gratuita, laica e de qualidade. Defendem que é necessário que haja a consolidação do campus de Ourinhos, com ampliação de investimento para a unidade, visando abrir novos cursos e uma estrutura ainda melhor para as atividades acadêmicas. Cabe lembrar que o curso já é socialmente referenciado, possuindo certificado de entidades da área acadêmica, como a ABG que, em nota, presta solidariedade aos Movimento Estudantil da UNESP e aos sindicatos dos servidores. Em entrevista concedida ao jornal Passando a Régua, o Diretor Edson Pirolli relata também que o curso de Geografia de Ourinhos em 2008 foi o 2º colocado em todo o Brasil no ENADE e ficou em 5ª colocação em 20. Conta com 8 laboratórios recheados com equipamentos de ponta, mas lamenta apenas que o que falta é investimento em recurso humano, pois trabalham na unidade cerca de 50 servidores.
