Casa Nem sofre reintegração de posse

Ocupação LGBTQIA+ é realocada em escola municipal após reintegração de posse
Ativistas fazendo cordão na entrada da ocupação para não permitir entrada da PMERJ.
Foto: Ale
Júlia Aguiar e Ale 
“Eu passei pela Av. Nossa Senhora de Copacabana cinco da tarde e a Polícia Militar já estava fazendo vigília, era uma fila muito grande de carros da PM”, conta militante, em entrevista ao Repórter Popular. O prédio localizado na rua Dias da Rocha, 27, em Copacabana, abriga a ocupação Stonewall Inn – Casa Nem, que acolhe mais de 40 pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social.
 
O processo contra a ocupação tramita no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro desde julho de 2019, na 15º Vara Cível. Na manhã de segunda-feira (24), a ocupação sofreu reintegração de posse, que apesar de “pacífica” contou com um grande aparato policial armado.
 
Foto por trás de um dos cordões da PMERJ, mostrando a quantidade de policiais no cerco.
Foto: Ale

A ocupação estava disposta a resistir à reintegração de posse, desde 7h da manhã ativistas LGBTQIA+ se reuniram em frente ao prédio, fazendo um cordão humano na porta da Casa Nem. A polícia fechou a rua, provocando tensão durante toda a manhã, os policiais armados com escudos, cassetetes, armas de gás e bala de borracha, estavam prontos para reagir com truculência a qualquer instante.

 
A Prefeitura do Rio de Janeiro disponibilizou imóvel em Laranjeiras para a realocação da Casa Nem, porém, o imóvel está inabitável. A Casa Nem reivindicava se manter no prédio em Copacabana até que a nova casa ficasse pronta, e assim, se mudar pacificamente.
 
Segundo a advogada e membra da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ludmila, que acompanha o caso, a remoção é desnecessária. “A ação desatende ao direito a saúde, moradia. Se você esperar um pouco mais para fazer a remoção, você consegue atender o interesse de todas as partes, respeitando inclusive o direito a propriedade do imóvel ocupado”, afirma em entrevista ao RP.
Um dos cordões formados pela PMERJ em volta da ocupação.
Foto: Ale

Após muita tensão, os manifestantes conseguiram um acordo com a Prefeitura, que cedeu uma escola municipal para que os integrantes da ocupação pudessem residir até que o prédio em Laranjeiras ficasse pronto. A mudança foi feita pacificamente por volta das três da tarde, porém muitos objetos pessoais não foram removidos por falta de espaço nos caminhões.

 
Cris Lacerda, ativista LGBTQIA+, afirma em entrevista ao Repórter Popular que a ordem de despejo é injusta, “essas pessoas vão pra rua, expostas ao tempo frio e ao novo coronavírus, piorando a situação pra uma população que vive sob vulnerabilidade social”.
 
“Contra as remoções e despejos, Fora Temer” dizeres atrás da camisa de ativista da FIST.
Foto: Ale

Os moradores da Stonewall Inn – Casa Nem foram alojados no colégio estadual Pedro Alves Cabral na rua República do Peru, em Copacabana. As instalações são dignas, porém existem diversos problemas com a vizinhança do colégio, que já começou a reclamar do barulho e a ida da Casa Nem para a região. Segundo a liderança da Casa Nem, Indianare, não existe previsão de quando irá ocorrer a mudança para o prédio em Laranjeiras. “A diretoria do colégio disse que só podemos ficar aqui no máximo por 20 dias, pois precisam limpar tudo e higienizar para volta às aulas. Então o acordo que seria até o mês de outubro a direção disse que desconhece”, afirma Indianara em entrevista ao Repórter Popular.

“A escola não está fechada como nos disseram (está em funcionamento administrativo), existem câmeras espalhadas e ligadas por toda a escola, que não são as do nosso projeto, o que nos dá a sensação de vigiados o tempo todo e sem controle sobre essas imagens”, continua Indianara. Ela afirma que os moradores da Casa Nem pretendem sair do colégio o mais rápido possível, e que provavelmente a rua em frente ao prédio em Laranjeiras será ocupada com um acampamento. 
Além do despejo da Casa Nem, mais uma ação de reintegração de posse aconteceu nessa segunda. Situada em Laranjeiras, na Zona Sul, uma ocupação que havia começado há menos de duas semanas, também sofreu com a ação truculenta do Estado. Nesse caso foi garantido por ativistas um abrigo temporário às famílias em outra ocupação, porém apenas por uma noite, uma vez que este local não comporta o número de pessoas que faziam parte da ocupação em Laranjeiras. 
Edição e reportagem: Julia Aguiar
Imagens: Ale