Após 11 dias de paralisação no magistério estadual de Santa Catarina, foi decidida a suspensão da greve por 60 dias em assembleia realizada no dia 8 de maio em Florianópolis. Na reunião mais uma vez, a direção do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina (Sinte) mostrou que seu problema não é meramente organizativo, mas político.
Desde o ano passado o governador Jorginho Mello (PL) se nega a conversar com os trabalhadores da categoria. Nesse ano, com início da greve, a repressão e ameaças do governador foram gigantescas e o jurídico do SINTE pouco fez.
Após as ameaças de demissão dos ACTs (Admissão em Caráter Temporário), a direção estadual por dias afirmou “confiem no juridico”, sem apresentar ações concretas. Apenas um dia após enviar uma liminar, declarou em assembleia que a mesma tinha pouca efetividade.
A abertura da assembleia do dia 8 de maio aconteceu com a fala extremamente problemática do jurídico do SINTE, que lavou as mãos e declarou que não se responsabilizaria por aqueles que se mantivessem em greve, demonstrando essa judicialização de forma terrorista e desrespeitosa com as professoras e professores.
A direção sindical durante o período da greve não foi transparente com a imprensa e nem com sua própria base. Não divulgaram os números de adesão ao longo da greve e não mostraram resposta conforme o assédio do governo e das direções crescia.
Ao ver os números da adesão diminuir, a direção do SINTE preferiu guardar para si os dados e usá-los em assembleia para desmobilizar a greve.
A prática da direção de judicialização da luta, aliado ao entreguismo e o depósito da luta nas mãos do parlamentarismo foi destruindo a capacidade organizativa e luta da categoria. Sabemos que, historicamente, nossa luta por direitos é feita na rua pelas trabalhadoras e trabalhadores e não através da justiça burguesa. Nossas conquistas, aquelas que são ganhos reais e não pífios, como as que a direção vergonhosamente se vangloria, são arrancadas através da força da nossa mobilização e organização desde o chão das escolas até as ruas.
A direção não soube organizar e orientar também a formação dos comandos de greve, que acabou de forma geral sendo um conjunto de professores que se mobilizaram, e muito, mas sem representação da base, agindo de forma individual e sem real delegação a partir das discussões coletivas da base. A crítica principal não é à esses professores que, com muita disposição de luta, fizeram o que as direções não faziam há muito tempo: trabalho de base.
Na regional de Joinville, por exemplo, os comandos passaram em escolas que há muito tempo o SINTE sequer pisou. Mas, apesar disso, os comandos acabaram, pelo modo desleixado que as regionais os construíram, não sendo representações reais e diretas dos acúmulos e acordos da base. Essa desorganização gera um problema muito sério, a falta de comunicação com a base.
O modo como a assembleia aconteceu, muito mais do que a decisão em si de suspensão de greve, foi desmobilizador. Um novo balde de água fria foi jogado nos professores que, após o show de horrores e desrespeitos, voltaram a suas regionais com um clima amargo, tenha ou não sua posição ganhado na votação.
A direção estadual, que atualmente está nas mãos da CUT (Central Única dos Trabalhadores) se revelou extremamente autoritária nas assembleias, desde o modo como fala com a categoria, até a forma que conduz a instância, interrompendo falas.
Sua aparente incompetência vai desde não conseguir organizar as inscrições de fala, gerando tumultos, até a incapacidade de compreender uma proposta de encaminhamento trazida pela base, apagando-a na votação.
A todo momento que a assembleia se manifestava de forma “fora do controle”, ou seja, contrária a posição da direção, havia falas duras e autoritárias, tratando a categoria como imatura. As falas ligadas a direção do sindicato vinham em tom de menosprezo da opinião diferente. Essa postura se revelou mais uma vez nas falas que, invés de construir argumentos para a posição defendida, colocava os professores de opinião contrária como aqueles que não tinham inteligência, maturidade, idade e responsabilidade, dividindo os professores em dois grupos e apenas um deles tinha contas a pagar e responsabilidades para serem cumpridas.
A greve é um dos instrumentos principais dos trabalhadores que lutam por condições melhores de vida e trabalho. A greve e a luta por direitos como um todo só é possível quando ela se espalha pela base e, ombro a ombro, as trabalhadoras e trabalhadores se unem. Por isso, apesar dos nossos inimigos e das direções pelegas, precisamos nos mobilizar e reivindicar aquilo que é justo.
Nesses 60 dias, sabemos que a direção não vai fazer o que lhe cabe. Mostraram durante a greve que não estão interessados em enfrentar de fato o governo. Cabe à nós, enquanto base, construirmos um movimento forte, apesar da direção.
Escrito coletivamente por um grupo de professores com afinidades políticas que estão na base no magistério estadual.