Sobre o descaso, a naturalização e a banalização do absurdo

Sobre o descaso, a naturalização e a banalização do absurdo: relato de um dia na emergência do hospital São Camilo em Esteio.

O Hospital, fica localizado na Avenida Castro Alves, 948, bairro Tamandaré em Esteio.

O relato a seguir dará conta do período entre as 16:30h do dia 04 de Junho e as 09:00h do dia 05 do mesmo mês.

O descaso do poder público para com a população e também com as funcionárias se transforma em um circo do absurdo em plena pandemia.

Entre as 16:00h e as 17:00h do dia 04/06/2020, um homem, que segundo as enfermeiras de plantão, já possui diagnóstico positivo para coronavírus, transitou e se sentou em poltronas da área de emergência verde do hospital.

A situação só foi descoberta porque uma enfermeira que já havia o atendido na semana anterior sabia que o mesmo havia testado positivo para o covid-19 e alertou às outras trabalhadoras e a ele para que fosse retirado do recinto e levado para a área destinada a pacientes de covid-19.

O homem usava máscara somente na boca, com o nariz descoberto e falava sozinho enquanto transitava pela emergência do hospital.

Todos trabalhadores e trabalhadoras, bem como pacientes e acompanhantes que estavam na emergência do hospital entre as 16:00h e 17:00h foram, em razão disto, expostos ao coronavírus.

Alguns acompanhantes de pacientes indignados com a situação foram conversar com as enfermeiras exigindo que todos ali fossem acompanhados e testados, as mesmas relataram uma situação ainda mais caótica, segundo uma delas, esse tipo de situação ocorre quase que diariamente, segundo outra, ela mesma trabalhava na área destinada a pacientes de covid-19 e foi transferida para trabalhar na emergência sem sequer ser testada.

Também a ala psiquiátrica do hospital teve de ser isolada, vez que por falta de EPI’s e protocolos de saúde, um paciente contaminado acabou transmitindo o vírus para outro paciente e funcionários.

A naturalização e a banalização do momento em que vivemos se torna ainda mais evidente quando a falta dos EPI’s necessários transforma também as trabalhadoras e trabalhadores em agentes de transmissão do vírus, vez que transitam pela emergência do hospital com máscaras de pano por horas a fio, por vezes as utilizando de forma incorreta ou por falta mesmo dos EPI’s necessários, ou por falta de conscientização e protocolo de segurança biológica por parte do poder público.

Pacientes e acompanhantes aguardam ali sem máscaras, porque segundo as enfermeiras, não há máscara para todos.

Os pacientes aguardam por um leito neste ambiente insalubre por mais de 3 dias, enquanto nas redes sociais o prefeito Leonardo Pascoal brada que “existem leitos para todos”, ora, se existem então por quê a demora em colocá-los a disposição dos pacientes?

Também o prefeito diz que existem EPI’s para os funcionários, mas isso mais uma vez não se sustenta, tendo em vista que a maior parte das enfermeiras e enfermeiros utilizam máscaras de pano por horas a fio sendo expostos e expondo os pacientes ao coronavírus.

Quando a população reclama das condições do hospital São Camilo nas redes sociais do prefeito, o mesmo debocha e depois apaga os comentários, isso quando não bloqueia os reclamantes, como mostra o print abaixo.

Em resumo, no hospital São Camilo em Esteio, a falta de EPI’s, o descaso do poder público com os funcionários e pacientes é cruel, violento, e sem meias palavras, assassino.

Coloca profissionais, acompanhantes e pacientes em risco iminente de contágio e proliferação do vírus.

Em nenhum momento foi realizado um levantamento de quantas e quais pessoas estiveram ou transitaram na emergência do hospital quando o paciente com diagnóstico positivo lá esteve.

Sobre o caso relatado acima, denúncias já foram protocoladas junto a ouvidoria do hospital e serão também entregues ao Ministério Público, para que a prefeitura responda pelo descaso com que trata a saúde da população.