Sem Moro, Bolsonaro balança no poder

Às 17h dessa sexta-feira (24), Bolsonaro foi para a frente das câmeras falar sobre a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Se defendeu pouco das acusações de interferência na Polícia Federal e preferiu comentar temas de menor importância, como o desligamento da piscina do Planalto para economizar energia.

Resumo da situação:

– Nos últimos dias, com a ameaça de demissão do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, a relação de Moro e Bolsonaro estremeceu;

– Após confirmar a demissão na PF, Moro pediu demissão e, em seu pronunciamento, acusou Bolsonaro de interferir na instituição para colocar no comando alguém que atendesse interesses pessoais e políticos;

– Bolsonaro negou as acusações de Moro, mas deixou abertas as suspeitas de seu interesse em controlar o trabalho da Polícia Federal.

Comentário sobre o caso Queiroz

Sem ao menos ser perguntado sobre, Bolsonaro justificou sua amizade com Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e amigo do presidente desde a década de 1980. Queiroz e Flávio são investigados por um esquema de “rachadinha” (funcionários do gabinete de Flávio davam parte do salário para o vereador), em uma operação que partiu da Lava-Jato.

Marielle Franco

Também sem pergunta alguma, Bolsonaro reclamou que a Polícia Federal deu mais atenção para o assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes do que para a facada que levou em 2018. Em 2019, Bolsonaro decidiu não recorrer da decisão judicial que declarava Adélio Bispo (autor da facada), inimputável, ou seja, que não pode ser condenado criminalmente. Ao contrário deste caso, o assassinato de Marielle e Anderson se arrasta por investigações lentas, com o principal suspeito, Adriano da Nóbrega, morto recentemente em um crime quase sem explicação – o que pode indicar queima de arquivo. Outro investigado por envolvimento na morte de Marielle e Anderson é Ronnie Lessa, que foi preso no condomínio onde mora Jair Bolsonaro.

O que deve acontecer:

A Procuradoria Geral da República vai pedir ao Supremo Tribunal Federal que investigue as acusações que Moro fez contra Bolsonaro. Entre o que precisa ser explicado, está o fato de na demissão de Maurício Valeixo, constar a assinatura de Moro, que diz não ter assinado nada, o que implicaria que alguém falsificou.

Ainda ficam abertas questões como as investigações de outros dois filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo, ambos investigados por espalharem notícias falsas na internet sobre adversários políticos.