É impressionante como através de planos simples e uma movimentação pequena de atores, Fritz Lang consiga transmitir uma intensidade assustadora à já magnífica e sombria lenda escandinava, que acompanha Siegfried – o Aquiles dos escandinavos – em uma jornada envolvente de poder, amor e traição.
Cada plano do filme (Os Nibelungos, parte 1: a morte de Siegfried, 1924) é uma pintura, com uma direção de arte grandiosa para a época, criando cenários como uma floresta infestada de Nibelungos (anões grotescos), ou uma sublime catedral e o imponente castelo do Rei Guther.
A trilha sonora que permeia quase todo filme em sua projeção é uma alteração entre altos e baixos, abrindo espaços ao silêncio em momentos de luto, ou em uma intensidade nas cenas tensas e de ação. As diversas partes do filme se complementam visando o impacto que o filme de fato traz ao espectador.
Lang transmite uma veracidade impressionante através da direção de atores, com gestos e expressões faciais fortes, quase caricatas, mas que percebemos claramente a razão para tal quando analisamos o movimento em que o filme está inserido: o expressionismo alemão. (Esse movimento surgiu no início do século 20 e respondia na sétima arte aos horrores perpetrados pela Primeira Guerra. São comuns planos escuros, disformes, sombras e temáticas ligadas ao horror ou ao fantástico, demonstrando assim no cinema o reflexo da guerra. São exemplos de filmes do movimento: Nosferatu, O vampiro de Dusseldorf entre outros.)
No penúltimo canto, por exemplo, vemos a construção de um assassinato premeditado e com o público inserido nesse contexto; e é de modo cruel que assistimos às últimas cenas de nosso herói com sua amada, pois ela, assim como nós, pressente o futuro fatídico. E mais uma vez, Lang nos mostra sua capacidade incrível de criar planos memoráveis e marcantes, cuja utilização de luz e sombra os transformam em personagens na história, tamanha sua importância na criação do ambiente sombrio e surreal do filme.
É por isso que, ao analisarmos o Expressionismo Alemão, é fácil compará-lo à empolgação dos filmes de Méliès uma década antes (Méliès foi um grande diretor francês do início do século 20, precursor na arte cinematográfica e considerado o pai do cinema – veja-se, por exemplo, Viagem à Lua, 1902). A comparação é pela construção inventiva e surreal dos filmes e principalmente pelo poder impressionante que as imagens possuem, em filmes nos quais não é preciso cor ou falas para transmitir a intensidade e verossimilhança ao espectador.
Rodrigo Mendes