No dia 2 de abril, na Câmara de Vereadores de Joinville, o vereador Ninfo König saudou os anos da ditadura militar (1964-85). O parlamentar de 78 anos comemorou o período ditatorial responsável por sequestros, prisões e torturas de estudantes e trabalhadores/as de diferentes setores da sociedade joinvilense, assim como de muitas cidades brasileiras.
Não é possível tratar o vereador Ninfo como um leigo no assunto História. Afinal, ocupa um cargo legislativo e, por sua condição social de destacado empresário local, é possível entender que teve acesso a estudos formais para formar a sua consciência histórica.
A página oficial da Câmara de Vereadores de Joinville apresenta várias reportagens cobrindo o trabalho da Comissão Municipal da Verdade, em 2014. (http://www.cvj.sc.gov.br/component/content/article/47-comissoes/2614-relatorio-final-da-comissao-nacional-da-verdade-cita-joinville-relembre-o-trabalho-da-comissao-municipal). O relatório final da Comissão Nacional da Verdade, responsável por investigar os crimes do Estado brasileiro, apresentou a participação de empresas joinvilense na articulação do golpe de 1964, assim como apoio a ditadura:
“Em Santa Catarina, muitos dirigentes dos sindicatos que sofreram intervenção e sindicalistas cassados foram presos. No estado catarinense ocorreu um caso extraordinário de intervenção direta do Exército no interior da empresa, quando esse acampou em uma sala especial dentro da Fundição Tupy, em Joinville, mediante acordo com a empresa, e ficou usando suas instalações por 20 anos. Segundo depoimentos de presos políticos de Joinville, a direção da empresa possuía uma clara postura de apoio à repressão política na região. Quem era demitido por participação política ou reivindicação salarial tinha a carteira de trabalho assinada com caneta vermelha e nunca mais conseguia emprego na cidade, pois esse era o código utilizado entre as empresas.” (página 72 da segunda parte do relatório final http://www.cnv.gov.br/images/relatorio_final/Relatorio_Final_CNV_Volume_II.pdf )
Segundo o portal da FIESC, a biografia de Ninfo diz: “Natural de Joinville, Ninfo Konig começou a trabalhar aos 8 anos como ajudante do pai numa microempresa de calçados. Atuou nas empresas Lumière, do setor têxtil, Alva, fabricante de máquinas de lavar roupa, e na Tigre. Em 1977 fundou sua primeira empresa, a Akros, que chegou a registrar crescimento médio de 25% ao ano de 1982 a 1999.” (http://www.tvindustriasc.com.br/index.php/institucional/1102-ninfo-valtero-koenig )
Por sua carreira profissional, é possível entender o quanto o seu discurso pró-ditadura representa interesses de classe. Afinal, o seu ramo empresarial era contrário a organização sindical de seus trabalhadores. No contexto da Ditadura, os presos políticos atuavam na organização da categoria dos plásticos e têxtil. Nos 21 anos, a ditadura trabalhou fortemente para reprimir a classe trabalhadora e favorecer o empresariado.
No final da tarde de domingo (31), cerca de 90 pessoas se reuniram na Praça da Bandeira em repúdio à Ditadura Militar que Ninfo tanto defende. Joinville foi uma cidade que também teve presos políticos e pessoas torturadas pela ditadura. Algumas pessoas torturadas por lutarem contra a ditadura dos militares e dos capitalistas, como Edgard e Lúcia Shatzmann, estiveram na praça protestando.
A memória, a verdade e a justiça serão construídas nas ruas da cidade, já que o parlamento sempre vai cantar de acordo com a ideologia dos patrões e governantes.
Foto: Arquivo da Câmara de Vereadores de Joinv