Em Joinville não se comemora golpe militar

O Centro Acadêmico Livre de História Eunaldo Verdi pendurou a faixa no monumento aos imigrantes.

No final da tarde, cerca de 90 pessoas se reuniram na Praça da Bandeira em repúdio às declarações recentes de Jair Bolsonaro. Joinville foi uma cidade que também teve presos políticos e pessoas torturadas pela ditadura. Algumas dessas pessoas torturadas por lutarem contra a ditadura dos militares e dos capitalistas, como Edgard e Lúcia Shatzmann, estiveram na praça.

Nos dias em que o golpe militar completa 55 anos, Bolsonaro determinou às Forças Armadas que se comemore a data nos quartéis. Chamado de revolução pela desonesta extrema-direita, o golpe foi quando os militares derrubaram o presidente João Goulart no dia 1º de abril de 1964, para empossar uma sequência de ditadores até 1985.  

Edgard e Lúcia relataram suas experiências de tortura e durante o período ditatorial. Eles discursaram com intenção de acender os ânimos da militância joinvilense, para que não desistam da luta. João Henrique, militante do PCB, também falou sobre os militantes do Partido que desapareceram nos anos de chumbo.

Edgard Shatzmann esteve presente no ato contra as comemorações do golpe militar.

Catia Guimarães Pereira teve pai, mãe e irmãos presos na ditadura. Seu pai e irmão mais velho foram torturados para denunciar parentes envolvidos com os sindicatos. Durante o ato, ela falou das lembranças de quando foi na Vila Militar no Rio de Janeiro, com sua mãe e quatro irmãos menores, para buscar informações sobre o pai que estava preso. Ela estava com o filho no ato, que é professor de História, Antonio Augusto.

Catia teve pai, mãe e irmãos presos na ditadura civil-militar.

Evelyn de Jesus, do Centro Acadêmico Livre de História Eunaldo Verdi (Calhev), de estudantes da Univille, leu uma nota criada por estudantes de História. Explicaram sobre o processo de deturpação da história e criticaram a escolha de alguns setores da esquerda de despolitizar o período. Evelyn leu:

“Incentivar e homenagear torturadores de crianças é um absurdo por si só, mas a proposta do calhev é de politizar o debate. Lembrar que as vontades econômicas por trás da ditadura são as mesmas do governo atual, a de botar o trabalhador pra trabalhar mais, por menos salário e sem direito a se defender, tudo pelo lucro dos patrões. Lembrar também que as vítimas da ditadura tinham lado, o lado da classe trabalhadora, e por isso foram perseguidas, torturadas e mortas.”

Um dos gritos de ordem foi contra a Fundição Tupy, empresa grande em Joinville, referência em tecnologia de fundição de blocos e cabeçotes. A empresa fica localizada no bairro Boa Vista. Segue um trecho do relatório da Comissão Nacional da Verdade para entender a situação:

Em Santa Catarina, muitos dirigentes dos sindicatos que sofreram intervenção e sindicalistas cassados foram presos. No estado catarinense ocorreu um caso extraordinário de intervenção direta do Exército no interior da empresa, quando esse acampou em uma sala especial dentro da Fundição Tupy, em Joinville, mediante acordo com a empresa, e ficou usando suas instalações por 20 anos. Segundo depoimentos de presos políticos de Joinville, a direção da empresa possuía uma clara postura de apoio à repressão política na região. Quem era demitido por participação política ou reivindicação salarial tinha a carteira de trabalho assinada com caneta vermelha e nunca mais conseguia emprego na cidade, pois esse era o código utilizado entre as empresas.

Fonte: Brasil. Comissão Nacional da Verdade. Textos temáticos / Comissão Nacional da Verdade. – Brasília: CNV, 2014. – (Relatório da Comissão Nacional da Verdade; v. 2)

Aos gritos de “Ditadura Nunca Mais”, “Globo Apoiou a Ditadura” e “Tupy Apoiou a Ditadura”, manifestantes saíram da praça pela Avenida Beira Rio e foram até o Mercado Municipal, onde estava rolando o evento Metal Joinville. O ato foi encerrado com um jogral do Centro Acadêmico. 

 

Lúcia Shatzmann ainda precisa lutar contra ditadura.