A direção do Metrô de São Paulo convocou nesta quinta-feira (26/03) funcionários administrativos para trabalhar em postos da Operação a partir da próxima segunda-feira. A chefia da empresa pública, que pertence ao Governo de São Paulo, ainda não informou se vai implantar um plano de contingência – como o fechamento de algumas estações e priorização de trabalhadores dos serviços essenciais.
No Metrô, funcionários da Administração não atuam na Operação. Essa medida representa um desvio de função e, fora isso, trabalhadores operativos possuem treinamentos de equipamentos que os administrativos não têm – o que coloca em risco a segurança operacional do sistema que, agora, mais do que antes, não pode falhar, sob o risco de não estar disponível para trabalhadores da saúde ou que garantam o abastecimento.
Desde a chegada da pandemia no Brasil, cada vez mais metroviários da Operação – setor responsável pelos trens e estações – têm se afastado por suspeitas de infecção ou por pertencerem a grupos de risco. Informalmente, funcionários têm relatado uma baixa de até 40% no quadro das estações em alguns dias e há bases de Tráfego que chegaram a operar, nesta semana, com um terço a menos de trabalhadores.
Plano de contingência
Nos postos e nas redes sociais, metroviários defendem de forma unânime um plano de contingência bastante restritivo para evitar que o Metrô seja vetor de transmissão da COVID-19 – segundo o sindicato da categoria, essa contingência deveria priorizar acesso para trabalhadores de serviços essenciais e suspensão do funcionamento de alguns trechos para forçar a diminuição da demanda de outros tipos de usuários.
Também cresce na base o sentimento de que a paralisação total em algum momento possa ser uma saída caso o Metrô não proponha ações efetivas. Embora menos maluco que Bolsonaro, João Doria não fica muito atrás: se o presidente despreza o povo sem máscaras (talvez por não saber usá-las), o governador se omite no sistema de transporte público mais movimentado do país (em média, mais de 5 milhões de passageiros por dia).
Essa decisão pode indicar que o sistema metroviário de São Paulo pode entrar em colapso antes do sistema de saúde. Embora o melhor neste momento seja garantir a todos o direito à quarentena sem prejuízos, um Metrô que pare por falta de funcionários e sem um debate claro com a sociedade pode não estar disponível sequer para garantir uma contingência para trabalhadores de serviços essenciais.
Ao querer projetar uma ideia de normalidade dentro do sistema, o Metrô e o Governo de SP mostram que o achatamento da curva foi obra da conscientização e solidariedade da população e não uma ação de governo. Ao usar o Metrô para moer a carne de seus próprios funcionários, Doria mostra não entender que a maior qualidade de um transporte público de massas é, neste momento, seu maior problema.
Além disso, o governador deveria saber que a retomada do cotidiano da capital e do estado dependerão muito do Metrô, e isso só será possível se não perder funcionários para o coronavírus – seja por morte ou devastados pela tragédia que é enterrar um parente sem nem poder velá-lo. Expor funcionários administrativos que não têm treinamento (e por consequência, suas famílias) e que já estavam em home-office é irracional e criminoso.
Confira abaixo a convocação enviada pelo Metrô aos funcionários administrativos nesta quinta-feira:
Segue abaixo a convocação no período de 30/03 a 03/04.
• Todos os empregados, inclusive os que estiverem em home office, devem ser convocados, exceto os que se enquadrarem na condição de risco (saúde e acima de 60 anos);
• De preferência, os colaboradores serão alocados em estações próximas à sua residência;
• Os estacionamentos das estações, estarão liberados para os veículos particulares dos empregados;
• Serão disponibilizados pelo OPE, máscaras e coletes refletivos;
• O OPE é o responsável pela alocação dos colaboradores nas estações.
Os locais de trabalho serão as estações das Linhas 1, 2 e 3, nos seguintes horários:
TURNO MANHÃ = das 06 às 14h
TURNO TARDE = das 14h às 22h