Notícia do Setor de Comunicação do Movimento de Organização de Base (MOB-RJ)
Nesta sexta-feira, 27, ocorreu uma manifestação no Complexo do Alemão em decorrência dos 7 dias do assassinato de Ágatha Félix, 8 anos, covardemente assassinada durante uma operação da polícia militar. O ato foi puxado por estudantes e professores das escolas dos arredores da região e apoiada pelos moradores do Alemão, com cartazes e falas que denunciavam o genocídio da população negra que vive em favelas decorrente de uma política de segurança pública historicamente racista e classista que se intensificou durante o atual governo de Wilson Witzel.
A presença permanente da polícia militar nas favelas cariocas é justificada pelas autoridades como necessária para o combate ao tráfico de drogas. Mas, como bem sabemos, o cerne do tráfico de drogas se opera bem longe das favelas, mais especificamente nos bairros nobres, em condomínios fechados, com a participação de policiais, parlamentares, empresários e, principalmente hoje em dia, de milicianos. Nessa dinâmica, a favela representa somente o varejo do tráfico de drogas. Portanto, vemos que esse propósito não passa de uma desculpa para justificar o controle mais rigoroso do Estado nesses espaços em que vivem as camadas mais pobres da classe trabalhadora.
O Estado só entra na favela através da polícia, da bala, da coação. Essa população afetada cada vez mais pelo trabalho precarizado, pelo alto preço dos transportes públicos, pelo aumento do custo de vida, pela deterioração do ensino público no Rio de Janeiro, ao chegar em casa ainda corre risco de vida devido à forte presença policial nas favelas. Ir à escola, ao mercado, andar pela sua vizinhança, voltar para casa, são situações de risco num contexto em que todo e qualquer morador de favela, principalmente se for negro, é visto como alvo pelos olhos da polícia e do Estado.
Ágatha foi mais uma vítima da Polícia Militar. Voltando para casa, foi alvejada com tiros de fuzil pelas costas. Os moradores do Complexo do Alemão presentes no ato reforçaram que esta morte está longe de ser um caso isolado, sendo cotidiano para essas famílias que vivem permanentemente com o luto, a dor, o medo e a sensação de impotência. Muito se sofre, mas a comunidade estava em peso, unida e mobilizada, para clamar por justiça por Ágatha e por tantos outros atingidos pela violência policial; para além, disposta a lutar pelo fim dessa política de morte, pelo fim das UPPs e da Polícia Militar, sinalizando que mais atos como estes vão acontecer pelas favelas dos Rio de Janeiro.