Há anos a grande mídia se esforça para criminalizar as torcidas, transformando-as nas inimigas do futebol que eles, sob os valores do capitalismo neoliberal, desejam. Inimigas de um futebol “ordeiro”, “comportado”, elitizado, higienizado e embranquecido nesta importação do abstrato e irreal padrão europeu como ideal civilizatório.
Em outras palavras, sofremos com a busca por domesticação e, eventualmente, fim da festa nas arquibancadas porque é do interesse dos órgãos públicos e da grande mídia nos ter “dóceis“. Colonizados pelo imaginário de que o futebol europeu é mais civilizado, ignoram o que ocorre na Itália, na Grécia, Alemanha, Turquia e outros países, onde as torcidas promovem belíssimas festas. Por fim, endossam (com a conivência e passividade da direção dos clubes) a demonização de quem vai ao estádio para promover a alegria nas partidas de futebol. Muitos de nós já tivemos a triste experiência de irmos a algum jogo do Grêmio e se deparar com ambiente insosso, com a festa esmagada pela proibição da banda com seus instrumentos.
Diante dos problemas e outras questões envolvendo a rotina do futebol, o punitivismo revela a falência dos poderes em gerir e solucionar dilemas. Assim, resolvem as situações somente “para inglês ver“. Há quantos anos punem as torcidas organizadas e as barras? E o que melhorou nos estádios? A violência diminuiu? Na verdade, o reflexo de anos de demonização das torcidas promoveu o encarecimento dos ingressos, a elitização do futebol e a consequente diminuição da festa que sempre foi uma marca do futebol em nosso continente e elemento essencial de nossas identidades enquanto torcedores latino-americanos.
Nós não temos que ser europeus! Nós não queremos ser europeus! Nós somos sudacas e queremos fazer a festa nas arquibancadas como sempre!
Primeiros ataques em 2019
As três primeiras rodas do Campeonato Gaúcho de 2019 terão o tom dessa prática de perseguição: torcidas de Grêmio e Inter não poderão levar suas faixas nos jogos de seus times por decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O motivo é uma punição por incidentes no Gre-Nal de 11 de março de 2018, há um ano atrás. O órgão determina ainda que os setores onde ficarão os penalizados, será necessário aparecer uma faixa com os dizeres “INTERDIÇÃO DETERMINADA PELO STJD”. Por ter passado tanto tempo após os ocorridos e pelo processo ser ocultado das torcidas por mais de seis meses, sem dar direito a manifestação pública sobre o caso, o caso ganha contornos de propaganda, sem o real objetivo de dar fim ao problema da violência nos estádios.
A medida pune todos torcedores e torcedoras que frequentam os setores em questão (que coincidentemente são os mais baratos da Arena do Grêmio). Não bastasse isso, nos jogos fora de casa, durante a punição, não será permitida a venda de ingressos para os visitantes, prejudicando o torcedor do interior que tem apenas uma oportunidade no ano inteiro de ver seu time jogar em sua cidade.
O punitivismo do STJD se alia aos seus fins propagandísticos criminalizando todo setor de torcedores – sejam eles integrantes de organizadas, barras ou não – determinando sintomaticamente que se coloque uma faixa mostrando para todos o seu poder e arbitrariedade COM A CONIVÊNCIA DAS DIREÇÕES DE GRÊMIO E INTERNACIONAL.
Se os estádios modernos que possuímos atualmente são mais seguros pelas câmeras de segurança que possuem, por que não identificar os responsáveis e puni-los individualmente como preza a legislação? Respondemos: porque a intenção é elitizar, docilizar e criminalizar a torcida que faz a festa na arquibancada.
Repudiamos veementemente a atitude do STJD em sua saga por punição e criminalização da festa nos estádios assim como esperamos posturas ativas e em defesa dos verdadeiros donos do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, ou seja, a torcida, por parte da direção do Grêmio FBPA.
Irmanamo-nos e subsvrevemos a nota de repúdio dxs compas da Inter Antifascista que pode ser lida clicando aqui:
Por fim, relembramos Eduardo Galeano em sua bela obra “Futebol ao sol e à sombra” em defesa do povo e de seu direito à festa nos estádios porque a alegria sempre será mais potente que a punição.
“Você já entrou, alguma vez em um estádio vazio? Experimente. Pare no meio do campo, e escute. Não há nada menos vazio que um estádio vazio. Não há nada menos mudo que as arquibancadas sem ninguém.”
Movimento Grêmio Antifascista