Ainda que a criação de um Dia Internacional da Mulher seja discutido desde o início do século XX, foi o trágico incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist, em 1911, que ficou marcado como evento definitivo. Na ocasião, 146 trabalhadores, sendo 125 mulheres (em sua maioria, imigrantes judias e italianas entre 13 e 23 anos) morreram. O 8M, que muitos ainda tratam como data comemorativa e com fins comerciais, tem seu próprio nascimento relacionado à exploração e ao descaso pela vida da mulher, e mais de 100 anos depois do incêndio na fábrica têxtil nos Estados Unidos, os números ainda assustam e as desigualdades persistem.
O ato público do 8 de março de 2019 em Porto Alegre, organizado por mulheres das mais diversas origens sociais, econômicas e políticas, levanta três pautas como as principais a serem debatidas no nosso país neste momento:
– Contra a Reforma da Previdência: além de uma reforma trabalhista já em curso, que permite que mulheres grávidas trabalhem em locais insalubres, o direito das trabalhadoras novamente é atacado. PEC da Reforma aumenta em dois anos a contribuição das mulheres que, na maioria dos lares, são as responsáveis pelas atividades domésticas (resultando em jornadas duplas ou até triplas de trabalho).
– Aborto legal já!: uma em cada cinco mulheres até os 40 anos já abortaram no Brasil, país onde a cada dois dias uma mulher morre em decorrência de abortos clandestinos. As principais vítimas são mulheres mais pobres, sem acesso a clínicas particulares. O aborto é uma questão de saúde pública e são as mulheres, e não uma bancada religiosa, que devem ter autonomia sobre seus corpos. Educação sexual para escolher, contracepção para prevenir e aborto legal para não morrer.
– Basta de Feminicídio: o Brasil é o quinto país em mortes violentas de mulheres no mundo, com o assustador número de 135 estupros diários. O assassinato de mulheres por questões de gênero acontece nas ruas e também dentro de casa, em todas as classes sociais e com mulheres de todas as cores, mas são mulheres negras que morrem cada vez mais, com um aumento de 54% de casos de assassinatos nos últimos 10 anos. O machismo mata todos os dias.
O 8 de março importa porque somos nós, mulheres, companheiras, filhas, mães, amigas, que ainda não podemos escolher livremente o que vestir ou por onde andar; ainda não recebemos como nossos colegas do sexo masculino mesmo em atividades idênticas; ainda somos caladas mesmo quando falamos de assuntos que dominamos. O oito de março importa porque mais de 100 anos depois de um incêndio em uma fábrica norte-americana, estão roubando nossos direitos, mandando em nossos corpos e nos assassinando. O oito de março importa porque vivas nos queremos. O oito de março importa porque é um dia de luta, e foi pela luta que conquistamos o direito ao estudo, ao voto e a pertencermos a nós mesmas.
(Ainda sobre o Março Feminista, a Grêmio Antifascista participará das atividades do 8M e também no dia 14 de Março, às 18h na Esquina Democrática, pedindo por justiça para Marielle e Anderson).
Movimento Grêmio Antifascista