ESPECIAL 8M: MULHERES RESISTEM! – Nem uma a menos! Precisamos falar de feminicídio.

Nesse mês de Março, nós do Repórter Popular, organizamos uma série de publicações sobre a questão das mulheres. Para encerrar nossa série, escolhemos um tema de extrema importância para nós mulheres: o Feminicídio. O que os dados sobre violência estão nos alertando? Ao longo deste mês selecionamos alguns temas relacionados à questão das mulheres trazendo reflexões e fomentando o debate, falamos sobre a Reforma da Previdência, violência obstétrica, a ideologia de gênero, amamentação, masculinidades e outros assuntos relacionados.

NEM UMA A MENOS! PRECISAMOS FALAR DE FEMINICÍDIO!

Nos primeiros 20 dias de 2019, tivemos registrados 107 casos de feminicídios. Além disso, o Brasil ocupa o quinto lugar nos crimes contra mulheres, segunda o Organização Mundial da Saúde (OMS). É mais do que necessário olharmos com atenção para esse assunto, pois os dados sobre violência evidenciam aquilo que o machismo busca invisibilizar: a desigualdade de gênero, a violência doméstica e o feminicídio.

O Atlas da Violência de 2018 destaca que, em 2016, 4.645 mulheres foram assassinadas no Brasil e em dez anos houve um aumento de 6,4% nos registros de homicídios de mulheres. São 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras. Em Roraima essa taxa chega a 10 homicídios para cada 100 mil habitantes, a maior taxa entre os estados brasileiros.

Quando falamos nas questões de gênero, não podemos deixar de olhar para a raça, principalmente se queremos entender o problema do feminicídio no Brasil. Os dados de 2016, mostraram que a taxa de homicídios é maior entre as mulheres negras (5,3) e entre as não negras (3,1) – a diferença é de 71%! As taxas de homicídios para cada 100 mil mulheres evidenciam que entre as negras houve um aumento de 15,4%, enquanto que, entre as não negras houve queda de 8%.

Geralmente, as mulheres que foram vítimas do feminicídio também sofreram uma série de outras violências de gênero, como violência sexual, psicológica, física e patrimonial. E isso nos indica que é mais do que necessário falar sobre as violências de gênero no nosso cotidiano, falar sobre machismo, racismo, homofobia e sobre como podemos evitar todas essas situações de violência.

Em outra pesquisa, da Fundação Perseu Abramo de 2010, uma em cada cinco mulheres declaram já ter sofrido alguma vez “algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido ou desconhecido”. Foi constatado que o parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais 80% dos casos reportados. Isso faz com que as mulheres vivam sob ameaça, medo e preocupação constantes. Medo pela integridade física, medo pela sua vida.

É comum ouvirmos as pessoas dizerem “lugar de mulher é em casa!”, ou “você vai sair com essa roupa?”, “Ta pedindo!” e por ai vai a lista de recomendações que nos são feitas sobre nosso comportamento e forma de ser e vestir, às vezes com a intenção de nos proteger de situações de violência, às vezes nos julgando… O que há de errado nisso? Bom, há uma série de problemas envolvendo esse tipo de mentalidade. Primeiro, que lugar de mulher deve ser onde ela quiser, devemos ter liberdade para ir e vir na sociedade, sem ter medo de andar sozinhas e vestindo a roupa que nos sentimos bem. Segundo, que os próprios dados nos mostram que entre as muitas das violências de gênero, a maioria são geradas dentro de casa, no ambiente doméstico, ou seja, muitas vezes os agressores são nossos maridos, irmãos, pais, etc.

Em terceiro lugar, se saímos de mini saia, short, com roupa assim ou assado, de burca, não interessa, pois as chances de sofrermos assédio e violência sexual é a mesma. Não é o tamanho da roupa que define, e sim tratar nossos corpos como objetos, tratam-se de questões culturais e estruturais da sociedade. E há casos emblemáticos disso no Oriente Médio, por exemplo, onde as mulheres usam burca e mesmo assim são estupradas. E, por último, enquanto não mudarmos a nossa cultura e começarmos a tratar abertamente dessas questões, educando nossas crianças para a igualdade de gênero, o respeito às diferenças, ensinando a não tratar as mulheres como objeto sexual e entender as consequências dessas agressões, não vamos conseguir resolver o problema das violências de gênero. Combater o feminicídio e as violências machistas, racistas, homofóbicas e tantas outras da nossa sociedade precisa ser uma tarefa de todas e todos.