Esse texto faz parte de uma série de relatos de uma moradora de Barcelona ligada às lutas por moradia na região.
Na Espanha, nos encontramos desde o dia 13 de março em estado de alerta. Na prática, implica uma quarentena obrigatória, que passa de 15 dias. No momento da redação do texto, a quarentena tava marcada para se estender até o dia 26 de abril. Para garantir o atendimento da quarentena, estamos vivendo num Estado Policial, ou seja, sendo aumentadas as competências e a impunidade dos policiais e dos militares. Cabe destacar que um grande investimento do dinheiro público foi destinado para a chamada UME (Unidade Militar de Emergências), que coloca militares no trabalho de desinfecção. Há, no entanto, uma crítica a esse investimento pois parece mais focado em limpar a imagem dos militares do que realmente os colocar para ajudar. Junto a isso, é importante destacar a multiplicação de abusos e violência policial, principalmente contra o povo cigano, migrante e de outras etnias, além de multiplicarem multas às pessoas que se solidarizam aos agredidos ou denunciam essas situações.
Para conter isso, foi criada uma plataforma chamada “Defender a quem defende”, formada por jornalistas, pessoas defensoras dos direitos humanos, especialistas em Direito, coletivos sociais, institutos universitários e organizações do terceiro setor com o objetivo de apoiar e reforçar as ações e a coordenação das pessoas que já estão trabalhando contra os abusos.
Cabe destacar também que, com o Estado de Alerta, foi prometido que recursos da saúde privada seriam usados, mas ainda não há amostras desses investimentos e os jornais noticiam trabalhadores e trabalhadoras da área da saúde assegurando que esse dinheiro não está sendo usado na saúde pública.
Quanto ao isolamento, depende de região para região e depende das condições de cada local. E as respostas da população estão sendo diferentes segundo o bairro. Na minha vizinhança, estão criando redes de apoio muito fortes para assegurar as necessidades das vizinhas e os vizinhos. E todos os dias, perto das 20h, os vizinhos vão para as janelas aplaudir os trabalhadores e as trabalhadoras da área da saúde. De outros bairros, porém, chegam notícias que muitas pessoas viraram o que chamamos de “policiais do balcão”: aqueles que gritam para quem caminha pela rua, xingando e chamando de irresponsáveis por sair, mesmo sem saber as razões que as fazem estar na rua. São numerosos os casos de pessoas que iam trabalhar (muitas vezes em condições ruins, como as denunciadas pelos trabalhadores dos correios), ou de pais e mães, que saiam com filhos com diversidade funcional e que tinham uma necessidade real de sair, além de todas as pessoas em cujas casas vivam situações de violência.
Gostaria destacar também que existem movimentos de ajuda concreta, aos trabalhadores autônomos especialmente, mas que não dão conta, por serem muitos os trabalhadores e trabalhadoras nessa situação. Além de serem muitos trabalhadores, há perseguição contra eles por parte da polícia que multa aqueles que ficam nas ruas mesmo que estes não tenham casa para onde ir.