Dando seguimento às nomenclaturas do cinema, hoje vamos falar sobre mais três delas, hoje num bloco temático de enquadramento. Portanto, vamos falar do ângulo e da movimentação da câmera na filmagem das cenas.
Plano geral: o enquadramento mais básico, talvez, do cinema, que é aquele que abrange uma área relativamente ampla do espaço filmado. Pode ser a cena de um cômodo em toda ou boa parte da sua área, como pode ser uma vista externa, podendo assumir uma dimensão monumental se gravado, por exemplo, num deserto, num grande território. É usado muitas vezes para dar uma dimensão de tamanho, geralmente com contraste de objetos (por exemplo, uma pessoa num deserto).
Filmes que utilizaram: me lembro agora de Andrei Rublev, de Andrei Tarkovski, que mostra uma sociedade medieval imensa, com centenas de figurantes; Metrópolis, de Fritz Lang, um filme da década de 20, impressionante como foi gravado, com milhares de figurantes que representam os de baixo naquela sociedade distópica em que os pobres vivem no subsolo do mundo; Interestelar, de Christopher Nolan, que eu não gosto muito, mas que tem grandes planos gerais no espaço, dando a dimensão da nave em relação ao espaço. Tarkovski adorava esses planos, e em muitos de seus filmes vemos paisagens belíssimas em tomadas memoráveis do diretor.
Zoom: é o movimento da câmera para frente, aproximando, chamado zoom in, ou se afastando, zoom out. Às vezes é usado para dar a ver um elemento que estava encoberto, seja afastando a câmera, seja aproximando-a ao ponto que se deseja mostrar. O zoom também funciona como indicativo de tensão ou de alívio em cena: zoom in, a câmera se aproximando, ao fechar o quadro, indica tensão, ao passo que a outra, ao afastar-se, libera a tensão da cena.
Filmes que utilizaram: muitos filmes utilizam, é claro, mas me ocorre um em especial, o grande filme Onde os fracos não têm vez, dos irmãos Coen, em que o psicopata interpretado por Javier Bardem está tirando no cara ou coroa o assassinato ou não do dono do mercadinho. Quanto mais a cena fica tensa, mais o zoom in é usado e mais próximos ficamos da cena, mais fechado é o enquadramento; quando finalmente é o alívio da cena e o cara não vai mais ser morto, zoom out. Uso sensacional do zoom.
Close: é aquele enquadramento muito próximo, perto da cena ou do personagem (close é perto em inglês). Ele serve para mostrar bem de perto as feições do ator ou da atriz, por exemplo, para intensificar algum sentimento interpretado por eles. Também serve para, ao fechar o quadro, criar uma sensação tensa (parecido com o zoom in, porém sem movimentação, o close é parado), e junto a isso uma sensação de claustrofobia, porque ficamos presos naquele enquadramento pequeno, sem escape.
Filmes que utilizaram: certamente o mais notório dos últimos anos é Filho de Saul, de László Nemes, filme de 2016, vencedor do Oscar de Melhor filme em língua estrangeira. Este filme húngaro inovou ao filmar inteiramente em close. O filme inteiro é uma “perseguição” em close do personagem principal, um prisioneiro judeu obrigado a trabalhar num campo de concentração nazista. O filme é altamente perturbador, seja pelas cenas, seja pelo contexto, e também pelo virtuosismo fílmico oriundo da posição da câmera. Ótima sacada do diretor. Ingmar Bergman, senão o maior, um dos maiores diretores do cinema, adorava close, porque, dizia ele, mostrava melhor as atuações e os sentimentos impressos nos gestos e trejeitos interpretados.
Este foi mais um texto sobre nomenclaturas do cinema que visa subsidiar minimamente um debate sobre cinema a partir de noções mínimas. Quando eu soube dessas coisas, aproveitei melhor os filmes que vi. Espero proporcionar isso a vocês.
Rodrigo Mendes
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