A empresa CRV Serviços Terceirizados, ganhadora de licitação junto à Prefeitura de São Leopoldo para serviços gerais na Secretaria de Desenvolvimento Social, não pagava as funcionárias há 2 meses. As trabalhadoras passam por este problema desde o início do contrato entre empresa e prefeitura e já fizeram muitas manifestações públicas independentes diante da Prefeitura e da Secretaria de Desenvolvimentos Social, onde estão lotadas. A prefeitura informa que tem pago a empresa que, por sua vez, não repassa valores às trabalhadoras.
Em virtude deste problema, as próprias trabalhadoras organizaram uma reunião no dia 7 de agosto com governo municipal e empresa (que se ausentou), tendo como resposta do sindicato “não entrar em confronto”, mas fazer ações judiciais individuais contra a empresa. Um dia após mais este ato das trabalhadoras, em 8 de Agosto, a CRV pagou o que estava atrasado em passagens e o restante do salário de Junho. Segundo uma das trabalhadoras, “agora começa a luta pelo salário de Julho!”.
O Repórter Popular perguntou a algumas das trabalhadoras, no dia 7 de Agosto, o que estava acontecendo e como está a situação nas suas casas.
Segundo Fabiana, elas não recebiam nem salário, nem passagens, nem vale-alimentação há dois meses. Por não poderem seguir trabalhando, foram até a Secretaria de Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Leopoldo e chamaram representantes do governo municipal, do sindicato (Sindiasseio – Vale dos Sinos) e da empresa CRV. Fabi afirmou que isso não é novidade, pois já ocorreu o mesmo com outras empresas, como a Top Service.
Maria Nara relatou que já teve que cozinhar na rua com fogo em uma lata, pois não teve dinheiro para comprar gás, que a conta da luz está quase sendo cortada e que nem sabão para lavar roupa tem. Segundo ela, a empresa CRV joga a culpa na prefeitura, mas que agora que prefeitura pagou a empresa, os valores foram usados para outras finalidades que não o salário das trabalhadoras.
Luz Marina contou que está sem água e sem luz, ambos serviços cortados por falta de pagamento. Falou que está precisando da ajuda de uma filho para comprar comida, enquanto o outro está doente e falta dinheiro para comprar remédio. Segunda ela, representante da prefeitura mostrou um documento comprovando ter pago 82 mil reais à empresa. Ela contou que quando ligam para a empresa, os funcionários “são bem ignorantes”. Nesta reunião que as trabalhadoras organizaram, elas chamaram representante da empresa que não foi.
Josiele falou que a situação está muito ruim, especialmente por que tem dois filhos pequenos que precisam ir para creche que fica longe de casa, o que é mais grave devido a dificuldade de pagar transporte. Segundo ela, a infrequência pode gerar perda de vaga na escola. Apesar de tudo, ela afirma, que segue cumprindo seu compromisso com a empresa e com o serviço, enquanto a CRV não cumpre sua parte. Ela falou que apenas uma vez teve o pagamento de salário em dia, enquanto no restante havia atrasos de uma, duas ou três semanas, chegando ao cúmulo de dois meses agora. Ela explica que receberam R$ 500,00 em Junho.
De acordo com Fabiane, a prefeitura agora está fazendo sua parte, pagando a empresa CRV, que há nove meses atrasa os salários, o que gera dívidas devido aos juros cobrados das contas que as trabalhadoras não conseguem pagar em dia. Fabi reclama que essas perdas não vão ser restituídas e que não estão tendo seus direitos garantidos. Segundo ela, se não fosse pela cobrança feita pela servidora da prefeitura responsável, que tem sido parceira, a CRV nem pagaria INSS e Fundo de Garantia. Segundo ela, a empresa alega que a prefeitura estaria devendo mais de um milhão de reais em outros contratos (para serviços gerais em escolas), o que sequer se confirma e, mesmo em se confirmando, elas não podem deixar de ser pagas por problemas de outros contratos, pois o contrato delas é com a Secretaria de Desenvolvimento Social. Segundo Fabiane, quando as trabalhadoras dizem que vão entrar na justiça pelos seus direitos, representantes da empresa tiram sarro e debocham, afirmando que “não tem problema, pois eles vão dar ‘massa falida’ e amanhã, na próxima licitação eles estarão concorrendo de novo com outro nome”. Para ela, eles repetem o procedimento: concorrem à licitação, ganham, dão o golpe recebendo um percentual em cima de cada funcionária e ainda não pagam o salário, enquanto a prefeitura não consegue fazer o controle.
Para Débora, a empresa é “sem vergonha”, pois recebe o valor da prefeitura e não paga os salários, passagens e vale-alimentação. Ela afirma que as trabalhadoras organizaram a reunião, mas a CRV se negou a comparecer. Para ela, o sindicato está fazendo o que pode, pois em outros momentos as trabalhadoras evitaram envolver o Sindiasseio acreditando no cumprimento das obrigações depois de a empresa dar sua palavra sobre o colocar em dia o pagamento. Desta vez, pegaram mais de 80 mil reais, pagaram 500 para cada trabalhadora e não deram explicações. Ela afirma que a situação nos lares dela e das colegas é precária, crítica, pois não tem como pegar dinheiro emprestado para ir até o trabalho, sabendo que mal tem o que comer dentro de casa. Débora falou que teve colegas que pediram demissão e, em casos mais graves, houve demissão justificada por falta no trabalho. Ela afirmou que foi no Ministério Público do Trabalho e a resposta que teve foi que seria feita uma fiscalização, mas que eles não poderiam fazer nada, não poderiam obrigar a empresa a pagar os salários, apenas aplicar multas. Segundo ela, basta procurar na internet para ver que a CRV, junto com outras empresas, está sendo denunciada pelo Ministério Público desde 2015 por fraude em licitação.
O Repórter Popular consultou o site da CRV Serviços Terceirizados e verificou que um de seus slogans é “Tenha os melhores serviços terceirizados para sua empresa e foque somente em seus negócios”. Contudo, parece que a empresa prefere ferir direitos para focar em seu próprio negócio, lucrando com licitações Rio Grande do Sul afora.