Em Santos, Ocupação Anchieta resiste contra o despejo

Ato acontece nesta terça-feira, às 10h, e faz parte da Campanha Despejo Zero. Apoiadores divulgam carta aberta para apoiar a luta

Cerca de 70 famílias de um prédio ocupado há mais de 20 anos, em Santos, no litoral paulista, devem ser mandadas para a rua no dia 1º de julho, quando está prevista a reintegração de posse do edifício. Trata-se da Ocupação Anchieta, localizada em um antigo hospital psiquiátrico, que foi um marco da luta antimanicomial no país. Nesta terça-feira, dia 21, a partir das 10 horas, um ato vai denunciar a injustiça do despejo. A manifestação faz parte da Campanha Despejo Zero, que defende  prorrogação da liminar do Superior Tribunal Federal que suspende os despejos em todo o País.

Apoiadores da Ocupação Anchieta divulgam uma carta aberta em que pedem apoio à luta por moradia na Baixada Santista. Segue abaixo o chamado à mobilização:

Estamos entrando em contato para denunciar e fazer chamada de apoio na luta por moradia na região da baixada santista, em específico da Ocupação Anchieta!
Moram cerca de 70 famílias, mais de 100 crianças, na Ocupação Anchieta neste momento, a partir do dia 1º de julho estas famílias estão em risco de despejo! Outras ocupações da região também correm o risco de despejo e as famílias estão em grande vulnerabilidade!
Na terça-feira, dia 21 de junho, acontecerá Ato Nacional da campanha Despejo Zero e estaremos em Santos, em luta, somando ao ato nacional pela prorrogação da liminar que suspende as ordens de despejo no país e também denunciando o crime que está em curso na Ocupação Anchieta. Estaremos lá, somando também com outras comunidades de nossa região que estão sofrendo com a especulação imobiliária e o higienismo do projeto de gentrificação em curso territorialmente. A concentração do ato está marcada para às 10h00 em frente ao Fórum Trabalhista de Santos, onde a Ocupação Anchieta tem processo em andamento.
Convidamos todas as pessoas, movimentos populares e entidades — que prezam e lutam pela garantia de Direitos Humanos, a somarem forças nesse momento tão fundamental! Desde a intervenção no Anchieta, a Luta Antimanicomial nos indica que a moradia é um direito fundamental para a garantia da saúde mental! A moradia é uma porta de entrada para garantia de outros direitos que subdisiam a sobrevivência! O risco de despejo destas famílias anuncia a violação de diversos direitos, as vulnerabilizando ainda mais e ferindo suas dignidades. A especulação imobiliária nos apresenta duas ameaças neste caso em específico: a violação de direitos das setenta famílias que moram no Anchieta a partir da ordem de despejo para 1º de julho, e também, o apagamento de parte da memória histórica da Luta Antimanicomial e Reforma Psiquiátrica no território e no país, com a especulação imobiliária disputando o terreno que está servindo à função social de moradia de cidadãos santistas há mais de 20 anos.
O apagamento histórico deste patrimônio público — principalmente, neste momento de crise econômica e sanitária — é indissociável dos projetos do governo vigente, de desmonte e ataques às Políticas Públicas de maneira geral, inclusive, no cuidado em saúde mental da população, como o desmonte da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e investimento em Comunidades Terapêuticas — instituições manicomiais, privadas, e que muitas vezes trabalham a partir de preceitos religiosos com pessoas que poderiam ser acolhidas pela política pública, com cuidado transdisciplinar. A intervenção no antigo Hospital Manicomial Anchieta é um marco, resultado de muita luta: em defesa de práticas de cuidado em liberdade, em defesa das pessoas que não correspondiam aos interesses capitalistas de produção, bem como, o combate das perseguições e do controle de pessoas nos mais diversos tipos de vulnerabilidade social, inclusive sujeitos políticos — alvos subjugados à violenta política de policiamento do Estado: prisão ou manicômio.
Como apoiadores da Ocupação Anchieta, nossa maior preocupação é fortalecer a luta pela segurança destas 70 famílias, precisamos garantir a continuação da ocupação do espaço! As famílias precisam ter a segurança de moradia digna, contamos com a possibilidade da proposta de algo que permita a permanência no território que também é delas, para que não ocorra como já sabemos; quando tem proposta: é comum deslocarem as famílias de seus territórios para uma ‘nova moradia’, em que têm custos maiores para manutenção da moradia e permanência no território, se torna insustentável para as famílias a condição do custo de vida e voltam à ocupar outro território, se torna um ciclo. Precisamos unir forças para que tenham a garantia deste direito fundamental: a moradia, com dignidade!
O terreno de aproximadamente 4000m² deve cumprir sua função social como moradia para essas famílias e ainda servir à toda comunidade com equipamentos públicos e privados diversos, visando gerar renda e empregos para população local! Através da verticalização inteligente e um projeto arquitetônico verdadeiramente social é possível criar um Museu ou Memorial da Luta Antimanicomial, equipamentos de assistência, centro cultural, cozinha comunitária, praça pública, entre outras inúmeras potencialidades que serão perdidas se não colocarmos em pauta como sociedade civil! 
A situação é de calamidade, mais de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil hoje, mais da metade da população brasileira vive com algum tipo de insegurança alimentar, a luta por moradia está diretamente ligada a essa luta e ainda é atravessada por outras lutas diversas, por isso, independentemente das urnas fazemos chamada de apoio permanente e incansável: lutamos por vida digna, lutamos contra a fome, lutamos como povo!