“É isso que os ricos não aguentam.” – MST festeja a maior produção de arroz orgânico da América Latina

COM A MAIOR PRODUÇÃO DA AMÉRICA LATINA, MST REALIZA A 16ª FESTA DA COLHEITA DO ARROZ AGROECOLÓGICO EM NOVA SANTA RITA (RS)

Reportagem e fotos: Alícia Ganzo – Resistência Popular Comunitária

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) organizou na sexta-feira (15) a 16ª edição da Festa da Colheita do Arroz Agroecológico. A festa contou com a participação de mais de 1600 assentados do MST, além de representantes políticos e visitantes externos. Estima-se que sejam colhidas mais de 15 mil toneladas de arroz, mantendo mais uma vez o MST/RS como o maior produtor de arroz agroecológico da América Latina.

“É isso que os ricos não aguentam. Como que um movimento que está prestes a ser considerado terrorista e ser colocado na ilegalidade consegue se manter como o maior produtor de arroz orgânico da América Latina?” 

Gabriela Severo, assentada do MST e militante da Resistência Popular

Gabriela refere-se ao Projeto de Lei do Senado 272/2016, de autoria de Lasier Martins (PSD-RS), que altera a Lei Antiterrorismo (Lei 13.260/2016) “a fim de disciplinar com mais precisão condutas consideradas como atos de terrorismo”. A iniciativa atende a pedido da bancada ruralista, com quem o senador sempre teve ligação.

A Festa da Colheita do Arroz Agroecológico já acontece há mais de década de forma itinerante, mas tem ganhado força, volume de produção e visibilidade nos últimos cinco anos. Neste ano, o palco da festa foi o assentamento Santa Rita de Cássia II, em Nova Santa Rita (RS), que conta com mais de 100 famílias assentadas e uma grande área produtiva. A comemoração da colheita é parte significativa no processo reprodutivo do movimento pois representa o sucesso de um modelo alternativo ao agronegócio brasileiro; é uma forma de expor que a agroecologia, com o cuidado à terra, ao meio ambiente e ao seres humanos têm potencial produtivo, ao contrário dos argumentos que a atacam.


A tradicional apresentação da celebração mística do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) teve grande duração e simbolizou a resistência dos pequenos agricultores e da agroecologia frente aos inimigos da terra como o Estado brasileiro, o agronegócio, venenos e empresas como Vale S.A e Bayer. Na mística, também se apresentaram os “sem-terrinhas”, crianças e adolescentes que moram nos assentamentos e são filhos de agricultores ligados ao MST. A presença de crianças pequenas na luta pela terra mostra quem de fato é prioridade para os militantes e assentados; o cuidado com a terra e a preservação do meio ambiente significa criar um futuro para os filhos. A militante Gabriela Severo destaca a diferença entre os modelos produtivos agroecológicos e o agronegócio para a preservação do meio ambiente:

“Essa questão da relação com o meio ambiente e os bens naturais que são respeitados e preservados, as nascentes dos rios, os mananciais e a própria relação com a terra e a sementes e que a agroecologia, o arroz orgânico é uma geração de renda direta das famílias e uma das formas de manter reservas ambientais permanentes em nossas áreas. O agronegócio produz milhões para exportação e deixa um rastro de devastação: animais mortos, venenos. Onde passa o agronegócio não sobra nem gente nem bicho.”

Gabriela Severo, assentada do MST e militante da Resistência Popular

Representantes do governo de São Paulo afirmaram serem parceiros do movimento em relação às compras públicas: o arroz agroecológico do MST é enviado em peso à São Paulo, sendo um alimento importantíssimo no programa da Merenda Escolar do estado. O Governo de SP comprou mais de 2,5 milhões de kg do arroz e realiza, por dia, mais de 2 milhões de refeições diárias, de acordo com os funcionários presentes no local.

Após o almoço coletivo, os participantes e assentados se deslocaram cerca de 4km até a área de plantio do arroz do assentamento. Lá, os assentados, manejaram a colheitadeira e realizaram a primeira colheita oficial do arroz agroecológico do MST em 2019.