De modo simples, o filme de Emmanuelle Bercot, que abriu o Festival de Cannes em 2015, nos mostra a história de um garoto cuja vida já nasce destruída e conta, ao longo dos anos, as consequências dessa destruição. Núcleo familiar desestruturado, portanto, é apontado – como um filme-tese, que busca defender um ponto de vista – como a causa e consequências de violências sociais.
A narrativa se desenvolve bem durante os dois primeiros atos do filme, mas no terceiro arrasta-se para um final óbvio e longínquo (poderia ter reduzido a duração do filme em 30 minutos que não perderíamos nada). Na última parte do filme não acompanhamos nenhum arco dramático, nada que acrescente à narrativa nos é apresentado, logo, é descartável.
A direção de fotografia, apostando em uma câmera errante, jamais parada, dá um tom de nervosismo e tensão ao filme, fazendo uma analogia à mente e vida de Malony. Este último, personagem principal, demonstra técnica e coragem em sua interpretação, que soa muito boa. Atuando em nível de igualdade com a grande Deneuve, toma conta de todas ações do filme e jamais sente-se ameaçado pela presença da veterana, pelo contrário, mostra-se maduro e bem talentoso.
Filme pontuado por um roteiro estruturado, com pouca trilha sonora, escolhida e usada em momentos adequados, sempre com músicas agitadas mostrando a verdadeira realidade vivida por Malony (talvez uma realidade longe da nossa). Realidade de um adolescente francês com família desestruturada na contemporaneidade. O filme termina como previsto; há algumas aberturas e fechamentos de planos sem sentido durante a projeção que atrapalham um pouco, mas não a ponto de tirar muita qualidade desse bom filme de Emmanuelle Bercot.
Rodrigo Mendes