Da revolta de Stonewall aos espaços de solidariedade e acolhimento

Texto da Resistência Popular Estudantil – RJ

Da revolta de Stonewall às casas de acolhimento, a população trans resiste a um CIStema secular de exploração e marginalização que encontrou na colonialidade um eco para se impôr sobre os corpos transgêneros latino-americanos. Que passe janeiro, mas que a visibilidade trans siga sendo um ponto de pauta importante em nossos espaços de luta e movimentos populares, principalmente sabendo que vivemos no país que mais mata pessoas trans no mundo.

É alarmante a falta de dados e estatísticas sobre a população trans brasileira atualmente, e mais alarmante ainda os dados mais fáceis de encontrar: índice de evasão escolar de 82% entre travestis no Ensino Médio. Pessoas trans representam atualmente apenas 0,1% dos estudantes matriculados no Ensino Superior público. Isso é resultado direto de um modelo de ensino que não pensa a diversidade e é construído única e exclusivamente para a formação mercadológica, descartando corpos e vivências que o próprio mercado descarta. A “pedagogia da violência” cumpre seu papel de moldar nossas crianças e adolescentes de acordo com as crenças e valores cisnormativos, e faz isso a qualquer custo. O resultado é um ambiente de aprendizagem tão hostil e cruel com pessoas que fogem do padrão imposto que se torna impraticável continuar, e produz números como os que colocamos acima. O resultado disso tudo é o dado mais alarmante de todos: uma expectativa de vida de 35 anos.

Mas para além de explicitar a situação grotesca que esse país e o sistema capitalista nos impõem, devemos também saudar a resistência histórica do movimento trans. Do protagonismo em revoltas populares marcantes, como a de Stonewall, à construção de ações de solidariedade voltados ao acolhimento de pessoas trans em situação de rua, à formação política e à reinserção no sistema educacional, bem como de compartilhamento de informações de acesso propositalmente dificultado, como em relação ao processo de retificação do nome social e de transição hormonal, o movimento trans segue se organizando e resistindo, garantindo para os e as nossas uma esperança de vida digna.

Mas precisamos ir além. É necessário enfrentar a lógica mercadológica do nosso sistema educacional desde a raiz. Lutar incansavelmente para que nossas escolas se tornem ambientes onde a diversidade é celebrada e não violentada. Tornar nossas universidades acessíveis para todos e todas, e lutar de forma igualmente incansável pela permanência estudantil daqueles que lá se encontram e dos que ainda virão. Construir desde já um Plano de Permanência Estudantil que avance em direção a uma universidade popular, onde o caminho será a conquista de nossas demandas. E nós da Resistência Popular queremos ser a ferramenta para construção de um Movimento Estudantil alicerçado nessas demandas, compostos por espaços que nos sentimos acolhidas, e que avance nos debates a respeito da transgeneridade na educação e torne nossa inclusão uma bandeira de luta que continue hasteada mesmo depois que janeiro acabar.

Por cotas trans em todas universidades!

Na luta por uma vida digna!