Bolsonaro quer blindar os filhos contra investigações?

Após a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e da Segurança Pública, com direito a acusações de que seu ex-chefe Jair Bolsonaro queria interferir em investigações da Polícia Federal, vieram à público novas suspeitas sobre os filhos Flávio e Carlos. E as coisas ficaram mais estranhas depois que descobrimos quem Bolsonaro vai colocar no Governo para cuidar de investigações como essas em cima de seus filhos.

Para a vaga deixada por Moro, Bolsonaro pretende indicar o padrinho de casamento de seu outro filho Eduardo. Jorge Oliveira, atualmente na Secretaria-Geral da Presidência, também já foi chefe de gabinete de Eduardo Bolsonaro.

Já para chefiar a Polícia Federal, o escolhido é Alexandre Ramagem, que tem fotos em redes sociais junto com Carlos, outro filho do presidente e investigado pela PF.

“E daí?”

Foi com desdém que Jair Bolsonaro respondeu, em suas redes sociais, as suspeitas de que colocar amigos próximos em cargos chave para investigações no país poderia indicar interferência nos trabalhos da Polícia Federal. Mas o problema é que hoje, seu filho Carlos, vereador no Rio de Janeiro, é suspeito de comandar o chamado “gabinete do ódio”, uma estrutura que produz notícias falsas (as chamadas fake news) para difamar opositores nas redes sociais. Lembrando que as mentiras espalhadas em grupos de whatsapp foram marcas registradas da campanha de Bolsonaro.

Mais assustadora ainda é a suspeita em cima de Flávio Bolsonaro, deputado estadual no Rio de Janeiro e investigado por um esquema de “rachadinha” (quando o parlamentar toma parte do salário de seus funcionários de gabinete). Segundo uma matéria divulgada último sábado (27), o esquema de tirar 40% do salário de cada assessor era usado para que milicianos construíssem prédios irregulares em favelas no RJ, a fim de dominar o mercado de imóveis nas regiões e lucrar em cima dos moradores. Em abril do ano passado, dois desses prédios ligados a outras milícias desabaram, deixando 24 mortos e dez feridos.

Se você clicar aqui pode acessar a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro em cima do caso. Inclusive, neste documento constam informações sobre o ex-capitão do BOPE Adriano da Nóbrega, um dos principais suspeitos do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Adriano está ligado ao esquema de Flávio por conta da esposa, que foi funcionária do gabinete do filho de Bolsonaro até novembro de 2018. Adriano também é apontado como ex-chefe do Escritório do Crime, uma milícia especializada em assassinato por encomendas. A mãe de Adriano também foi funcionária de Flávio e tem suas contas ligadas à Fabrício Queiroz, amigo da família Bolsonaro e que também já trabalhou para Flávio e que foi apontado como operador do esquema, quando foi investigado por movimentações de valores muito superiores ao salário em suas contas bancárias.

Lembrando que Queiróz começou a ser investigado em 2016 pelo COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e essa investigação poderia chegar em Flávio, mas o Governo resolveu tirar o COAF do Ministério da Justiça e colocar no Ministério da Economia, enfraquecendo os trabalhos para descobrir o esquema.

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