Ato em Laguna marca indignação popular com a gestão municipal

Por Repórter Popular – SC

Ontem (16), aconteceu uma manifestação no centro da cidade de Laguna pela manutenção do transporte público e melhores condições para o atendimento primário à saúde. Foram mais de 50 pessoas que tomaram as ruas, caminhando desde a Igreja Matriz até a Prefeitura Municipal, com cartazes que exigiam um transporte público digno e a saída do atual prefeito. Samir Ahmad (sem partido) está no centro de inúmeras denúncias de fraude de licitação e superfaturamento, o que fez com que a palavra de ordem mais presente durante todo o ato tenha sido: “fora Samir, o teu lugar não é aqui”. Empresário conhecido na cidade, Samir foi eleito prefeito em 2020, quando era filiado ao PSL, em uma coligação formada por seu então partido junto com PSD, PSDB e PRTB; ele não havia ocupado cargo político anteriormente.

O ato fez uma parada em frente ao Kilojão, empreendimento do prefeito, onde também foi cantado o hino da cidade. A maior parte dos trabalhadores e das trabalhadoras do comércio na rota da manifestação foram receptivos, alguns com palmas e se somando ao coro, assim como os pedestres e pessoas que estavam no trânsito inclusive trabalhadores da empresa de ônibus.

Segundo os presentes, a quantidade de pessoas nas ruas seria maior se não houvesse uma campanha de constrangimento por parte do poder municipal quanto à participação de servidores no ato. Mesmo os que estão de férias ou não estavam em horário de trabalho, supostamente receberam a sugestão por parte das chefias que sua adesão à ação de rua poderia implicar em um Processo Administrativo Disciplinar (PAD).

A questão do transporte público municipal foi pauta devido à ameaça do seu fim nos primeiros dias do ano. Enquanto muitas cidades no Brasil aderem à tarifa zero no transporte público em Santa Catarina já são sete, entre elas Araranguá, também no sul de Santa Catarina Laguna nada de braçadas na contra-mão. Por falta de repasses da Prefeitura, a empresa Laguna Transportes e Turismo (Lagunatur) chegou a anunciar o encerramento os serviços, alegando um déficit operacional de R$ 4,5 milhões causado na época da pandemia de covid-19. Vários cartazes na manifestação traziam o tema do transporte, em uma cidade onde o povo trabalhador depende desse serviço e já estava sofrendo o impacto da redução de horários, sobretudo dos ônibus que ligam os bairros mais distantes da área central. Linhas que fazem o trajeto do centro a Itapirubá, Ribeirão, Siqueiro e Farol de Santa Marta passaram a funcionar apenas com duas viagens no dia. 

A Prefeitura alegou em nota que a diminuição de horários foi realizada pela empresa sem seu consentimento e que aguarda a homologação judicial do acordo já firmado com a Lagunatur, que há anos indica uma possível paralisação do serviços. Hoje (17), um dia após o ato, foi anunciado que as linhas serão reestabelecidas após novo acordo entre o executivo municipal e a concessionária

Para uma mudança na prestação do serviço público, seria necessário abrir uma licitação, o que poderia demorar meses. A grande questão é que o Poder Executivo não apresenta um bom histórico nesse tema. As licitações tomaram a vida política lagunense desde que vieram a público as acusações de que uma sequência de processos licitatórios privilegiaram empresas ligadas a um empresário e ex-vereador da cidade, Roberto Carlos Alves, que já foi condenado por estelionato e teve seu mandato cassado na legislatura anterior (2016-2020). 

Conhecido por ter uma relação próxima a Roberto Alves, o prefeito foi apontado por uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara de Vereadores de Laguna como membro de uma organização criminosa que, junto com o empresário, fraudou licitações recentes. O exemplo mais falado é o chamado Kit Saúde, destinado a estudantes da rede pública e que foi entregue com cremes dental vencidos, licitado a um custo individual de R$599,80, enquanto o valor de mercado estimado é entre R$64 a R$72,27. O valor total do repasse é de 1,6 milhões de reais. Há outras pessoas apontadas como parte do esquema, entre elas o atual viceprefeito, Rogério Medeiros (PSD). O relatório da CPI foi aprovado na segunda-feira passada (08), em uma sessão histórica na Câmara de Vereadores que contou com a presença de mais de cem pessoas, que ocuparam todo o plenário, a escada de acesso e a parte da frente do prédio público.

Tanto a presença massiva na sessão como o ato de ontem marcam a efervescência popular que toma a cidade, dada a indignação crescente com o poder municipal. Com uma lista de acusações que cresce a cada momento, pouca coisa parece segurar a gestão no poder, para além da perseguição política que muitos opositores alegam estar sofrendo.