Com dados coletados até 2016, o Atlas da Violência, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Público, demonstra o grave cenário brasileiro de mortes violentas e violência sexual.
Em 2016, alcançamos um recorde de 62.517 (sessenta e dois mil, quinhentos e dezessete) mortes devido à violência intencional. São 30,3 mortes a cada 100 mil habitantes, uma taxa 30 vezes maior que da Europa.
Salta aos olhos o que os mais atentos já percebiam. A taxa de homicídios de pessoas negras é duas vezes e meia superior à de pessoas não negras (40,2% contra 16,0%), que, segundo o próprio documento, “é como se, em relação à violência letal, negros e não negros vivessem em países completamente distintos.” Em 2016, 71,5% das pessoas mortas eram negras
Já na década entre 2006-2016 o homicídio de não negros reduziu em 6,8%, enquanto o de pessoas negras cresceu 23%. Em relação as mulheres negras e não negras a situação também é grave. Nessa década, o homicídio de mulheres negras foi 71% superior ao de mulheres não negras.
Em relação a violência policial, os dados retirados do Anuário brasileiro de Segurança Pública demonstram que 76,2% das pessoas mortas em decorrência de atuação policial são negras.
Entre os jovens, especialmente homens e negros, constatamos a perda de uma geração, a destruição de famílias, sonhos e liberdades. No próprio relatório: “quando considerados os jovens entre 15 e 29 anos, observamos em 2016 uma taxa de homicídio por 100 mil habitantes de 142,7%, ou uma taxa de 280,6%, se considerarmos apenas a subpopulação de homens jovens.”
Estarrecedores também são os dados referentes a estupros. Os registros no sistema de saúde demonstram que 68% das vítimas são menores de 18 anos. Além disso, cerca de um terço dos agressores das crianças (até 13 anos) são amigos e conhecidos da vítima e outros 30% são familiares mais próximos como país, mães, padrastos e irmãos. Nestes casos, 78,5% ocorreram na própria residência.
Esse é o resultado de uma política de segurança pública assentada no encarceramento, tortura e derramamento de sangue jovem, negro e pobre, com o fortalecimento da legislação penal (Lei de Drogas, Lei das organizações criminosas, Lei antiterrorismo), com ocupação de territórios, diminuição de liberdades públicas, individuais e coletivas, seja pelas mãos legais (UPP, Intervenção Federal Militar, Garantia da Lei e da Ordem, ordem judiciais coletivas) ou extralegais (Facções e Milícias) do Estado e do Capitalismo.
Para acessar o atlas na íntegra, acesse: http://www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2018/06/FBSP_Atlas_da_Violencia_2018_Relatorio.pdf