O Repórter Popular está publicando uma série de quatro textos detalhando e analisando, pisando e repisando o chão das lutas nos caminhos possíveis diante do tema das reformas do ensino nesses tempos de crise, ajuste fiscal, repressão e ataque a direitos. Quem assina a série é Ethon Fonseca, professor de filosofia na rede estadual do Rio Grande do Sul há quinze anos e militante da Resistência Popular. Para ler o início desta série, clique aqui.
Parte 3 de 4:
O impacto de contextos atuais no ensino e em professores – fazendo, de limões, alguma limonada
Alertas sobre toda a contra-propaganda e desregulamentação previdenciária, trabalhista e pedagógica, em nome de consultorias e outras empresas “amigas”, de economia “de serviços”/firmas terceirizadas, têm sido lançados em muitos movimentos de trabalhadoras e trabalhadores, bem como os grevistas, nos últimos anos. Há colegas dispostos a debater correlações dos “cofres públicos” e “políticas desoneradoras”, com diversos meios/interlocuções/métodos/atitudes, mais ou menos notáveis ou consequentes. Como há quem denuncie desvios na gestão pretendida ou divulgada de rubricas, nos recursos públicos, incluindo até debate em Tribunais de Contas (com respectiva polêmica com “poderes da União” quanto à necessidade de outros modos e índices para uma Auditoria justa/cidadã).
Quais as diferenças atuais, já em 2018?
O contexto nacional de entreguismos tem se acumulado e gerado ainda mais transtornos, como na greve de caminhoneiros – pela qual governos estaduais como o sul rio-grandense repassam descaradamente as “contas”… a professores, como verdadeiros “avisos”. Nisso vários colegas parecem lembrar de alguma luta, nem que nalguma para não “mexerem” nos seus próprios projetos pedagógicos. Outros tantos colegas desacreditam das nossas próprias capacidades de organização popular, ou em sindicatos, como não faltam colegas verdadeiramente amedrontados, por dependerem de emprego não regulamentado, sob regime ironicamente chamado de “contratados”. Há porém os que se erguem, e organizam.
Essas pessoas todas, junto com toda uma massa de colegas e Escolas que, mesmo declarando não saberem como construir uma greve “da boa”, já liga agora mais alguns pontos, dificilmente negarão a “quadra histórica” que atravessamos. Por mais incríveis as realidades que apresenta: se não mais de tanques em estradas e ruas do centro de capitais, ou de helicópteros caçando, enquadrando e legendando nossos próprios estudantes e manifestantes, neste momento um período ainda muito parecido com algum episódio de mui alucinado desenho animado, e com “tias” torcendo em noticiário como se em jogo, ou capítulo final de novela – numa realidade de aplicativos de otimização de celulares não menos sutilmente “pedindo” os acessos mais diretos aos seus arquivos pessoais (e daqueles que empresas programadoras de algoritmos de “redes sociais” utilizam para que se veicule mensagens individualizadas e estrategicamente modeladas para a promoção de um Donald Trump nos EUA, ou a saída da União Europeia no referendo inglês Brexit). No país, há agitações políticas mais parecendo pegadinhas televisivas, enquanto gente se encrenca com “a lei” por ser negra e portar material de limpeza próximo a protestos. Enquanto isso o legislativo se ocupa de apreciar projetos “de educação” inspirados em código de defesa do consumidor – chamados “Escola sem Partido”, de um “movimento” apelidado “da mordaça” por censurar trabalhos de educadores mesmo jurando (orquestradamente e de pés juntos) não ser o caso.
Alguns professores, afinal, são bastante sensíveis às interferências das mídias em esferas curriculares e de orientação pedagógica – e isso não reflete naturalmente, em períodos propensos a tanto, noutros âmbitos?
Em âmbitos corporativos, sequer precisamos reverberar quão questionáveis são gestões de “atividades formativas” Escolas afora quando sem horizontalidade, nem perigarmos tomar grandes processos por isso: para um professor de outro planeta, e ainda não familiarizado com o modo como se conduzem planos estatais de gestão de Escolas, talvez bastasse inscrever-se na formação agendada através de instituição privada, em município próximo, e prometida para um dia de início de semana, mas alterada na semana anterior, pela própria Secretaria de Educação, para dois dias… do fim da semana. Mesmo que este aspecto “improvisado” fizesse parte de um jogo de video-game, precisaríamos e reivindicaríamos mais a agendas construtivas e instruções para aquele “jogo” – de nossas orientações e atualizações profissionais.