Sou um grande fã do trabalho do Paul Thomas Anderson há alguns anos. Não tendo visto alguns longas importantes dele, principalmente Boogie Nights (1997), meu comentário vai se centrar de Magnólia (1999) pra cá, sem contar aqueles curtas interessantes de início de carreira, o The Dirk Diggler Story (1988) e Cigarettes & Coffee (1993).
Em Magnólia, a história e seu ritmo narrativo são muito marcados, sendo duma fluidez incrível. Dizem que é muito parecido com Short Cuts (1993) do Robert Altman, mas como infelizmente não vi, falo somente do filme do PTA. Lá, mesmo com linhas paralelas, encontramos e nos fixamos no seu eixo sem maiores problemas. A narração dinâmica junto às cenas ajuda também, não atrapalhando ou sendo inútil como outros filmes, como o interessante mas preguiçoso O homem Irracional (2015), do Woody Allen, que se apóia na narração pra dispensar uma complexidade maior na parte imagética da narrativa.
Sangue Negro (2007) mantém vivo o tempo todo o porquê de sua razão de existência: a exploração ainda inciante do petróleo nos EUA e seu desenvolvimento descontrolado que afeta o ouvido do filho e a cabeça do pai, interpretado pelo gigante Daniel Day-Lewis. Controlado por forte trilha sonora, parecendo às vezes descolada do próprio filme, como que adquirindo vida própria a partir das ações de vez em quando literalmente explosivas, e marcado também por uma fotografia seca e quente, abafada, o longa se desenvolve cada vez mais fechado até o final apoteótico da grande cena na sala de boliche (vale lembrar uma possível influência do Kubrick aqui, na presença forte da trilha sonora e principalmente no enquadramento de baixo pra cima, que faz lembrar nitidamente a cena do macaco com o osso no início de 2001: uma odisseia no espaço (1968), ponto de virada no qual a violência na descoberta da arma marca a evolução da humanidade, aqui funcionando como um alívio ao avesso, pois alivia a tensão pro personagem enquanto acentua a tensão pra narrativa e pros espectadores).
O Mestre (2012), meu preferido do diretor, coloca em cena um triângulo maravilhoso de atuações: Amy Adams, Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman. No atordoamento do pós-guerra (salvo engano é essa a temporalidade) e com a oportunidade em “encaminhar” sua vida a partir do mestre, interpelado pelo Hoffman, o protagonista, em meio a tensões adquiridas em sua experiência de vida caminha em certo sentido em círculos na narrativa. (Num curta um ano depois, com os pedaços que não ficaram na montagem final do longa – Back Bayond, nome sugestivo e com tradução aproximada de ‘De volta para o além’, PTA demonstra com mais clareza o que no filme está contido escondido: um caminho para o esvaziamento).
Esse esvaziamento é o que tenho pensado. Em Vício Inerente (2014) e agora no mais circular ainda Trama Fantasma (2017), sua impecável direção parece conduzir a nenhum lugar; ou ao centro da questão. Esse andar meio flutuante, essa névoa que paira em cima dos últimos dois trabalhos são algo intrigante que eu gostaria de saber o porquê. Lá, um detetive maconheiro, cuja fumaça poderia ser o correlato do conteúdo à forma do filme; aqui, um estilista neurótico que se submete a quedas e levantes com sua “namorada” para poder sentir algo próximo a um afeto humano. Dois casos esquisitos que PTA conduz como num labirinto. Ela tenta esconder o que? Por que desse esvaziamento? Um dia quero descobrir.
Rodrigo Mendes