Por Repórter Popular – RS
No dia 03 de julho de 2024 ocorreu um incêndio no Morro Santana em Porto Alegre (RS). Coletivos e moradores se posicionam sobre os vários episódios desse tipo na região, apontam alguns problemas e cronologia nos fatos, e denunciam o descaso da tragédia natural(izada) na periferia.
O dia de ontem foi de comoção no Morro Santana. Por volta das 12h, um foco de incêndio foi percebido numa área que pertence a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), até virar um incêndio de grandes proporções que gerou queima em área de preservação ambiental, produziu danos e riscos à população local.
A grande tragédia é que os moradores vêm denunciando e apontando esses problemas desde muito tempo e nos últimos anos, contam situações que se repetem na história. Uma pesquisa, por exemplo, conta 25 incêndios com proporções significativas na vegetação dos morros de Porto Alegre entre 2015 e 2020, 9 destes no Morro Santana – outro destes casos foi noticiado no Repórter Popular.
Outro problema notável foi a demora para a efetivação do trabalho dos bombeiros. Muitos relatos de moradores indicam várias chamadas para o Corpo de Bombeiros, com descaso e/ou negligência, também atrapalhação da corporação; falta de estrutura e possibilidade de ação.
Em nota lançada por coletivos de atuação e moradores locais, é relatada a cronologia dos fatos de ontem, mas também dos últimos anos, em meio a tantas tragédias, condições para crises e eventos traumáticos que essa população (e tantas outras Brasil afora e no mundo) tem sofrido e resistido. Um vídeo também foi feito pelo coletivo Preserve Morro Santana e a Rádio Voz do Morro com imagens e contando o episódio.
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Importante lembrar que, neste território, temos a presença da aldeia Kaingang Retomada Gah Ré (veja ao final do texto indicações de vídeos e documentários que contam essa história). Indígenas resistem e necessitam da preservação das áreas de natureza para sua subsistência. É lamentável e injusto que seja tão difícil que essa possibilidade de vida, relação com a natureza e com a coletividade seja destruída; lamentável e inadmissível que habitantes periféricos, territórios e pessoas negras, indígenas e quilombolas passem por essas violências, por destruição e aprofundamento da miséria.
Como os coletivos da nota afirmam, a tragédia vai sendo naturalizada, as pessoas passam por diversos apuros, a causa dos incêndios não são apurados… foram crimes? São descasos? O que falta para que esse território seja demarcado e garantido como área de preservação ambiental, mas também social, olhando para o seu entorno?
Em síntese, a nota dos coletivos destaca: 1) descaso do corpo de bombeiros; 2) dificuldades para apurar a origem deste fogo e dos outros incêndios que ocorreram (incêndio criminoso, combustão espontânea; e 3) racismo ambiental, lembrando a incidência dessas situações cada vez mais frequentes em territórios periféricos, marcando e atingindo amplamente pessoas negras, quilombolas e indígenas, e demais habitantes da periferia.
Recentemente enchentes atingiram centenas de milhares de moradores no RS, em maio de 2024. O território do Morro Santana pode acolher e se solidarizar com a população diretamente atingida, criando abrigos e redes de apoio local e muita solidariedade. Importante que essas redes de ação coletiva se fortaleçam e possam barrar violências e construir outras possibilidades. Desde muito tempo a comunidade se organiza contra a privatização de uma parte desse território!
Quando não afundados em lama das enchentes, a população, as florestas e a fauna local são incendiadas e destruídas pelos fogos; as violências aumentam com a ganância empresarial; o descaso e os limites do Estado; a violência policial excessiva, por um lado, e ausência e falta dos bombeiros, por outro.
Em 2024, as ocorrências ambientais e suas consequências sociais, fazem perceber a incidência de uma crise climática, de problemas estruturais muito complexos e que demandam muita organização e construção de alternativas.
Confira abaixo outros vídeos sobre o Morro Santana.
Vídeo sobre empreendimento imobiliário no Morro Santana e exploração histórica dos Maisonnave, organizado pela Federação Anarquista Gaúcha.
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