Morreu na semana passada, dia 13 de setembro, na Suíça, Jen-Luc Godard, sem dúvidas um dos principais nomes da história do cinema. Francês, Godard participou ativamente da vanguarda chamada Nouvelle Vague, ou ‘nova onda’ do cinema francês, que inspirou o mundo – são famosas as nouvelles vagues japonesa, a brasileira (aqui chamamos de Cinema Novo, mas o ideal é o mesmo), até a indiana.
O movimento de ruptura, como toda vanguarda, buscava se descolar da estética que a precedeu, a saber, o realismo, a forma de mostrar no cinema a verdade da realidade social. A Nouvelle Vague também queria informar aos telespectador que aqueles filmes eram filmes de autor, quer dizer, não eram filmes clichês, voltados para o sucesso de bilheteria; eram filmes com identidade do seu diretor, que imprimia sua estética de modo personalizado. Quem assisti a um filme de Godard sabe que aquele é um filme de Godard.
Seu primeiro longa, que se tornou uma de suas obras-primas, Acossado (1960), revela algumas marcas do diretor e do movimento: o personagem conversa com a câmera, mostrando que o que vemos é um filme e não a realidade; há cortes que “não servem pra nada”, quer dizer, cortes que não mudam a cena nem mudam o ângulo de filmagem, parecem apenas uma brincadeira com a câmera; o protagonista é um subversor, e não raras vezes veremos pessoas mal ajustadas à vida em sociedade.
O demônio das onze horas (Pierrot Le fou, em tradução literal ‘Pierrot, o louco’) também traz essa persona, de alguém que não se encaixa nos padrões sociais – e poderíamos dizer, por quê não, nos padrões estéticos do cinema. O ator é Jean-Paul Belmondo, e sua parceira é Anna Karina, que trabalharam muito com Godard ao longo de sua profícua filmografia.
Godard foi eternizado no cinema como um dos fundadores do movimento e como um de seus principais expoentes. Gostando ou não, é faltar com a verdade não reconhecer seu talento e sua importância para o cinema francês e mundial. O cinema está de luto.
Rodrigo Mendes