Estudante é trabalhador(a)!

Texto de opinião da Resistência Popular Estudantil

 

Tornou-se comum ouvirmos que as universidades públicas são espaços de playboy, daqueles que passam a vida em escolas privadas, que não precisam se preocupar com contas no final de mês e que tem empregados e roupas de marca. De tanto falarem isso muitas pessoas acabam acreditando e, até mesmo entre estudantes, existe quem caia nesse conto do vigário.

Na realidade a situação dos e das estudantes evidencia que somos uma maioria de pobres, com 53,54% de nossas famílias tendo renda de até 1 salário mínimo per capita. Razão pela qual 70,5% de nós trabalhamos ou estamos à procura de trabalho. E quando encontramos um trabalho, ele é sem direitos em grande parte dos casos (44,4%), seja em um subemprego ou em um estágio sub-remunerado. E é através destes trabalhos cada vez mais precarizados que colocamos comida na mesa, pagamos aluguéis, cobrimos gastos com luz e água vendo nosso suor diário ser levado por preços cada vez mais altos nos supermercados, nas tarifas de contas e nos ajustes arbitrários das imobiliárias. Esse processo de elevação dos preços – chamado de carestia da vida – pesa principalmente sobre os 37,8% de nós que somos o sustento de nossas famílias, mas também mostra seus duros efeitos sobre os milhares que “chegam junto” para ajudar nas despesas familiares. É também importante ressalvar que 52,1% dos estudantes de universidades públicas somos autodeclarados pretos, pardos e indígenas, ou seja, somos pertencentes dos grupos étnico-raciais que “herdaram” a chibata nas costas que deixou a marca da desigualdade social e da miséria cada vez mais elevada.

A entrada das e dos de baixo ainda tem muito que avançar. Nós pobres ainda somos as/os mais prejudicadas/os com o ENEM e somos as/os que mais desistem dos cursos universitários devido à falta de bolsas que não suprem de forma adequada as nossas necessidades básicas; também somos as/os últimas/os a ter acesso às creches universitárias (quando elas existem) e as/os mais empurradas/os para os subempregos. Mas com os dados do nosso perfil fica evidente que a história de “universidade pública ser de playboy” é balela, das mais mentirosas, inventada por quem quer cortar ainda mais as creches universitárias, as bolsas, as pesquisas, as oportunidades.

Desta forma, não basta criar a mentira que diz que “estudantes não são trabalhadores e trabalhadores”. Com a necessidade crescente de estudantes por trabalho para sobreviver e continuar seus estudos, eles inventam uma nova mentira: “o empreendedor de si”, seja para estimular a PJotização que retira direitos trabalhistas ou mesmo para vender que trabalhar em aplicativos de transporte e entrega de alimentos, vender doces nas universidades, revender cosméticos e afins é “investir em si mesmo”, se fazendo livre das “amarras de velhas relações de trabalho”.

Neste 1º de Maio, data histórica da nossa classe, forjada na luta de trabalhadores e trabalhadoras em defesa de uma jornada de trabalho de 8 horas, melhores condições de trabalho e pelo fim do trabalho infantil, devemos combater todas as mentiras que queiram mascarar a nossa realidade.

Somos estudantes pobres, portanto exigimos assistência e permanência estudantil; ao passo que também somos trabalhadores e trabalhadoras, portanto exigimos direito à aposentadoria, condições de trabalho e vida digna.

Somos trabalhadores e trabalhadoras pois temos que nos submeter aos bicos mal-remunerados, a trocar horas de estudo por horas produzindo as comidas que venderemos nas universidades e ruas, pois nos arriscamos nos aplicativos de transporte e entrega para gerar lucro de um patrão que nem vemos. Mesmo na pós-graduação, a situação também é essa, somos as e os trabalhadores responsáveis pelos avanços científicos necessários ao enfrentamento dos problemas sociais, como a criação de respiradores para os atingidos pelo novo coronavírus, mas não temos acesso a direitos trabalhistas, regulamentação do trabalho, ficamos submetidos ao produtivismo das agências fomentadoras. E por não sermos entendidos como trabalhadores pelo governo, ficamos relegados a não ter contribuição previdenciária e nossos rendimentos não serem salários, mas sim bolsas que não recebem correção anual.

Somos filhos e filhas de trabalhadores e trabalhadoras, e em muitos casos, somos pais e mães estudantes. Diante do cenário de crise que atravessamos, de retirada de direitos, de aumento dos preços e da violência policial temos por tarefa unir forças com as categorias e setores que se levantam e se colocam em luta, para garantir nosso direito à quarentena sem perda de direitos e com salários integrais, investimentos em saneamento e saúde, a suspensão da EC95 (antiga PEC do Teto dos Gastos que congelou, por 20 anos, os investimentos públicos). E, quando do retorno das atividades, a tarefa será construir piquetes e barricadas rumo a uma greve geral de base, sem depositar nenhuma ilusão nas eleições.

É com a ideia de debatermos mais a fundo as armadilhas dos inimigos, bem como as saídas que devemos apontar para a crise que nós convidamos você para a live “Estudante é trabalhador(a)” que ocorrerá no dia 08/05/2020, às 18:00, disponível no canal de youtube do Repórter Popular.

1º de maio é dia do/a trabalhador/a, é dia de luta!
Estudante é trabalhador/a!
Estudante é resistência na LUTA por VIDA DIGNA!
Que os de cima paguem pela PANDEMIA!