Organizações e movimentos prestam solidariedade aos sem-teto no RJ

O Descaso do Governo e o “Auxilio”

Solidariedade aos sem-teto. Nas últimas semanas, temos visto o número de casos confirmados e mortes devido ao Coronavírus crescer cada vez mais nos diferentes estados do Brasil, isto sem levar em conta o elevado índice de subnotificação (um estudo da Escola Londrina de Medicina Tropical aponta que o Brasil pode ter até 11 vezes mais casos que os notificados). Nesse cenário temos: as posturas e pronunciamentos de Bolsonaro, que negam a realidade da pandemia e a necessidade do isolamento social como prevenção, bem como o apoio por parte de setores da burguesia e da classe média a esse comportamento negacionista. Além do afrouxamento das medidas de isolamento por parte de governos e prefeituras, que antes estavam respondendo de forma minimamente coerente às recomendações de especialistas e da OMS, tornam as possíveis consequências ainda mais graves e assustadoras.

A resposta de “auxílio” financeiro do governo não foi nada dúbia: enquanto ofereceu míseros 600 reais para uma parcela restrita da população afetada pela crise, para os bancos e patrões ofereceu um banquete de benefícios.

Medidas Urgentes

Se o governo não tomar medidas econômicas que permitam que os trabalhadores mais vulneráveis adotem a quarentena, não fornecer proteção adequada para os trabalhadores essenciais – e aqui enfatizamos que essenciais para a manutenção da sociedade e não do capital – e planejar cuidadosamente como prevenir a disseminação do vírus em áreas periféricas, o triste cenário que se vislumbra é de sobrecarga total do sistema de saúde. Isso ocasionando em muitas mortes, a maior parte entre a população pobre, sobre quem sempre recai os custos materiais e subjetivos das crises promovidas pelo capital. Vale mencionar que em grande parte das periferias brasileiras, as condições de habitação são mais precárias, com maiores aglomerações, muitas vezes acesso limitado à água e saneamento básico, por vezes não tendo nenhuma forma de saneamento e muitas moradias com excesso de umidade e pouca luminosidade e ventilação.

No mesmo sentido é urgente assumir compromissos que garantam o mínimo de dignidade para as pessoas em situação de rua, também assim como para moradores de ocupações urbanas. Despejos devem ser proibidos, prédios vazios e hotéis que estão fechados pela quarentena devem servir de lar temporário! Lembremos que há mais imóveis vazios que pessoas na rua. Contudo, sabemos que o governo prefere adotar o imobilismo e a enrolação em relação aos de baixo, enquanto se esforça ao máximo para servir e bajular os de cima. Um exemplo é como deixam claros os R$1,2 trilhão de reais liberados aos bancos como que em um passe de mágica. Sabemos também que, principalmente em momentos como esse, não podemos nos limitar a cobrar do governo as medidas necessárias. Precisamos nós mesmos nos organizar para garantir o mínimo de dignidade e proteção aos nossos. A solidariedade deve estar na ordem do dia e quanto mais organizados estivermos, mais longe poderemos avançar.

Redes de Solidariedade

Diante disso, vemos surgir em todo o Brasil uma série de iniciativas organizadas pelo povo e para o ajudar o próprio povo, verdadeiras redes de solidariedade entre trabalhadores rurais, urbanos, movimentos da juventude, organizações comunitárias, movimentos sociais, organizações de esquerda, entre outros, que visam amenizar os danos que o descaso e o desprezo do governo e da elite causam diariamente na classe trabalhadora. No Rio de Janeiro, nós da Resistência Popular Estudantil (RP-RJ), do Mulheres na Resistência (MR), do Movimento Organizações de Base (MOB-RJ) e da Federação Anarquista do Rio de Janeiro (FARJ/CAB) estamos nos articulando juntamente a ocupações urbanas, organizadas em torno da Frente Internacionalista dos Sem-Teto, visando construir uma rede de solidariedade com os moradores dessas ocupações, arrecadando doações e destinando cestas básicas e outras necessidades urgentes dos ocupantes.

Organizações e movimentos prestam solidariedade aos sem-teto

Solidariedade aos sem-teto. Até o momento, conseguimos realizar três ações de solidariedade. Na primeira, no dia 12 de março, utilizamos uma renda arrecada pelo coletivo Mulheres na Resistência para garantir as doações que foram entregues na ocupação Antonio Louro, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro, que concentra 22 famílias. Nessa ação, cerca de 118Kg de comida, além de materiais de limpeza e roupas, foram entregues. Depois, já com divulgação coletiva da arrecadação, somado ao caixa disponibilizado pelo Movimento de Organização de Base, a segunda ação foi realizada no dia 16 de abril, quando conseguimos levar doações para a ocupação Frei Lency, localizada no bairro de Santa Teresa e que abriga 16 famílias. Nessa ocasião, levamos além dos produtos de limpeza e alimentação, doações direcionadas às crianças (principalmente de colo), que demandam itens e cuidados específicos. No dia seguinte, 17 de abril, conseguimos levar doações de cestas básicas para a ocupação Carlos Lamarca, local onde moram 6 famílias. Por fim, no dia 22 fizemos a doação de 19 cestas básicas, sendo 16 para ocupação Frei Lency e três para a ocupação Isauro Camargo, localizada na Urca.

Além disso a campanha recebeu uma doação de produtos da Reforma Agrária Popular, por parte do Coletivo Alaíde Reis do MST-RJ, dos assentamentos da região sul do Estado do Rio de Janeiro. Essa doação permitiu realizar mais duas entregas, na Frei Lancy e na Antônio Louro, seguidas de uma conversa sobre a aliança campo-cidade e a busca por uma alimentação saudável, livre de venenos e acessível aos mais pobres. Uma ação que marca a amplitude da luta contra a especulação fundiária, seja ocupando latifúndios que prédios abandonados.

Avançamos cada vez mais na divulgação e operacionalização das ações de solidariedade, construídas com esforço e organização coletiva. Convidamos a todas e todos que queiram contribuir com nossa arrecadação e disponibilizamos ao final do texto os dados para doações.
Se mesmo em tempos de pandemia, o governo e a elite que o sustenta continuam a desferir seus ataques genocidas à classe trabalhadora, diariamente roubando nossa dignidade e, muitas vezes, até nossas próprias vidas, continuaremos a organizar e praticar a solidariedade, o apoio mútuo e a cooperação em que tanto acreditamos enquanto caminhos para a construção de um novo mundo. Afinal, se os de cima tentam nos matar, não nos deixaremos morrer! Rejeitamos o individualismo, a vigilância e a militarização oferecidas pelo sistema como solução para crises e pandemias, apostamos na solidariedade e na união entre as trabalhadoras e trabalhadores, esse é o caminho que devemos apontar.

Dados para novas doações: BANCO DO BRASIL, Agência: 2476-7. Conta corrente: 7078-5. CPF: 058.029.667-93. Titular: Fábio O Campos. Ao doar, avisar em (21) 99649-6316.

APOIO-MÚTUO, SOLIDARIEDADE E COOPERAÇÃO: OS CAMINHOS PARA ENFRENTAR A PANDEMIA E AS GARANTIAS DE UMA VIDA DIGNA!

#tacaroviver  #campanhaporumavidadigna