Foto: Luiza Castro/Sul 21
Enquanto o prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr. (PSDB), fala nos veículos de mídia sobre a importância de garantir os direitos básicos dos mais pobres durante a crise sanitária causada pelo novo coronavírus, sua equipe leva a cabo a remoção de famílias na Vila Nazaré, na região norte da capital. O prefeito ressalta a importância da quarentena, seguindo, em teoria, as recomendações da Organização Mundial da Saúde, mas parece esquecer que, sem lugar para morar, é impossível ficar em casa.
Desde o sábado, dia 21 de março, as pessoas têm assistido a destruição de suas casas. Na última terça-feira, dia 24, um vídeo postado nas sociais pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) mostra funcionários da prefeitura operando uma retroescavadeira, usando máscaras hospitalares, enquanto moradores da Vila Nazaré observam a ação sem poder fazer nada, com uma viatura da Brigada Militar ao fundo.
O Ministério Público Estadual entrou com uma ação civil na quinta-feira da semana passada, dia 19, visando impedir a continuidade das remoções na área, atentando para o fato de que a medida coloca em grande risco as pessoas removidas, que se encontram em situação de vulnerabilidade social, que se intensifica com o agravante da pandemia, pois há vários idosos e pessoas com problemas graves de saúde entre os moradores.
A ação é assinada também pelo Ministério Público Federal, pela Defensoria Pública da União e pela Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul. Os órgãos solicitantes ajuizaram a ação na 3ª Vara Federal de Porto Alegre, mas tiveram seu pedido negado. Entraram, então, com pedido de urgência no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, mas também nesta estância tiveram o recurso negado. Os responsáveis pela demolição das casas são o Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB), órgão da prefeitura, e a empresa Fraport. S.A., gestora do aeroporto da capital, que tem interesse na remoção para ampliar a pista do aeroporto.
Em reportagem do jornal Sul21, há o depoimento de moradores da área, que relatam que tiveram suas casas demolidas pelo poder público com todos seus pertences dentro. Um dos moradores relata que, enquanto tentava impedir a demolição de sua casa, era alvo de deboche e risadas, ficando sem moradia em meio à pandemia e tendo que dormir em seu carro. Nos relatos está presente a dor de quem perdeu tudo o que conquistou; eletrodomésticos, dinheiro, ferramentas de trabalho.
Como se não bastasse o ataque da prefeitura em conjunto com a iniciativa privada, a comunidade da Vila Nazaré enfrenta também um outro problema, que tem assolado outras comunidades da capital: a falta de água. Sim, estamos face a uma pandemia altamente contagiosa, e muita gente, que já não estava tendo acesso a água, agora ficou sem casa.