Mães na universidade

Mães na universidade

Assunto que vem chamando a atenção e conquistando espaços, foi o tema de um debate realizado durante as atividades da Semana Acadêmica da Universidade Feevale. Com a constante missão de permanecer presente, dia após dia, nos corredores e salas de aula das universidades, as mães que ocupam esses espaços, tem se articulado para reivindicar seus direitos e lutar para mudar situações que muitas vezes passam despercebidas e que, através de pequenas atitudes, podem facilitar muito a rotina de quem tem filhos e precisa concluir os estudos.

Conseguir entrar em uma universidade sendo mãe é um grande feito, mas se manter estudando durante anos e concluir a formação é mais do que uma enorme conquista, é um ato de resistência!

Durante o debate, foi muito falado sobre: a preparação da estrutura física que hoje se encontra sem trocadores, sem carrinhos de bebês, sem espaço para alimentação com geladeiras para armazenar leite materno, sem banheiros familiares e sem ambientes preparados para receber mães, pais, crianças e cuidadores; a formação de uma rede de apoio confiável e tranquilizante, e quando não tem muitas mães não tem nem a opção de estudar; o profissionalismo formado na academia e sua consciência social sendo exposto diariamente e normalizando este cenário; a ocupação de espaços públicos com crianças na amamentação; a falta de incentivo de políticas e apoio público, e os julgamentos cheios de pré-conceitos sobre onde é lugar de criança e qual o lugar da mãe; e sobre os tabus maternos antigos dentro da medicina e enfermagem que tornaram-se verdades inquestionáveis, onde a ciência já desmente e ainda assim são ensinados de forma errôneas dentro das universidades.

Inclusão nas universidades, uma luta também das mães!

Ao todo, são 53,9% das mulheres que ingressam em universidades, mas apenas 59,9% dessa porcentagem se forma. As mulheres já chegaram a somar 3,4 milhões de matrículas e 491 mil conclusões de curso. Dados do Censo da Educação Superior, 2016. Hoje as mulheres são a maioria entre os alunos das graduações do país, mas e se tornarem mães?
O desemprego após maternidade depois 12 meses é de 48%, 3 em cada 7 brasileiras tem medo de perder o emprego se engravidarem, e 1 a cada 6 mulheres sentiu que seu chefe queria demiti-la quando soube da gravidez, é o que mostra a pesquisa Licença maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil, realizada pela Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EPGE).

Os lugares universitários que aceitam que as mães levem seus filhos não são inclusivos pra isso, além de os professores e alunos não estão preparados para acolhê-los. A estrutura e a dificuldade de permanecer no ambiente se torna insustentável física e emocionalmente. E isso fere a dignidade e o direito de quem precisa desse ambiente para preparar um futuro melhor.

Infelizmente muitas mães não têm uma rede de apoio. Isso inviabiliza o acesso delas a uma universidade? Qual é o lugar de uma mãe?
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz no Art. 18° “É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”

Mães vida pública

Precisamos trazer as mães de volta a vida pública! Veja abaixo alguns depoimentos de mães universitárias.

Meu nome é Lilian Jochims, tenho 25 anos, sou bolsista ProUni e tenho um filho de dois anos. Privilegiada por um lado, minoria excluída por outros, e para traçar uma linha entre esses dois extremos, vamos falar um pouco sobre a minha experiência como mãe dentro da universidade e como foi quando me deparei com a exclusão da vida pública gerada pelo sistema social que invisibiliza mulheres após a maternidade, diminuindo ou anulando suas oportunidades de crescimento acadêmico e sucesso profissional. Se acessar a universidade já é difícil para as mulheres mães, permanecer dentro dela é mais complexo ainda, pois precisamos driblar diversos obstáculos, como por exemplo a dificuldade em andar com bebe no transporte público, a falta de banheiros ou ambientes familiares onde cuidador e cuidadora possam acessar livre e confortavelmente para atender as demandas comum às crianças, como alimentação e troca de fraldas por exemplo, a falta de conscientização de funcionários, alunos e professores quanto a mães que levam seus bebês para sala de aula ou para o ambiente de trabalho e também a falta de empatia expressada descaradamente através de olhares, julgamentos, dedos apontados, opiniões não pedidas e opressões das mais variadas possíveis!

Lilian Jochims, Novo Hamburgo, 24 de setembro de 2019.

Meu nome é Emily Santana, tenho 23 anos e um filho de 5 anos. Consegui ProUni durante a minha gravidez e ganhei meu filho no primeiro semestre da faculdade que fiz a distância por 2 semestres. Mesmo assim tive obstáculos pois as provas eram presenciais e não havia um ambiente adequado para levar um acompanhante e meu filho para amamentar e fazer as provas tranquila. Demorei muito tempo, 4 anos para me sentir confortável a levar ele para a universidade, mas nunca me acompanhou em uma aula. Mesmo dentro do campus nota-se olhares de julgamento e todo um cenário emocionalmente desconfortável. Tive uma rede de apoio durante os primeiros 2 anos com meus pais, apesar desta ser uma relação bem conturbada me possibilitou continuar frequentando a faculdade, e após com meu marido tive um apoio mais tranquilizador. Sinto uma pressão em me formar logo, pois não levando meu filho para as aulas, também tranco meu marido de continuar a estudar e realizar a pós-graduação por isso busquei fazer o maior números de cadeiras possíveis, e tive uma crise de ansiedade. Administrar o sentimento de culpa de não conseguir muitas vezes ser forte, segura, e o melhor que queríamos com a universidade, trabalho, casamento e na vida de nossos filhos tem sido um desafio. É difícil também manter amizades, não consigo nutrir uma por tempo também por não frequentar lugares sociais por “não ser lugar de criança”.

Emily Santana, Novo Hamburgo, 24 de setembro de 2019.

 

Texto: Mães universitárias, Emily Santana e Lilian Jochims