Há décadas, a região carbonífera do Rio Grande do Sul sofre com o retrocesso, estagnação e desigualdade social. Apesar do potencial de desenvolvimento que as cidades da região demosntram ter, o que se vê hoje é desemprego crescente e concentração de renda para poucos.
Em Butiá, onde moro desde que nasci*, sempre se falou da extração do carvão mineral como algo positivo e sem nenhum contraponto, criando assim um tabu sobre o tema. Tudo o que envolve o carvão sempre foi tratado como sinônimo de progresso para a cidade. Isso foi repetido muitas e muitas vezes, tornando-se uma verdade quase absoluta para a população local. Muito desta falsa ilusão de crescimento se dá pelo fator histórico: minha cidade foi fundada em função da mineração, em uma época que não se sabia dos malefícios da extração e pouco se falava em meio ambiente e saúde pública.
Atualmente, a empresa responsável pela extração de carvão em Butiá gera menos de 300 empregos, número que está caindo rapidamente. E após terem sugado tudo que podiam com a mineração, destruindo grandes áreas de vegetação nativa, amparados por uma legislação ambiental frouxa, a mineradora encerrará suas atividades no final deste ano.
O que nunca se discutiu é o real impacto que a mineração causou durante todos esses anos nas nossas vidas e, ao contrário do que a empresa mineradora diz, trouxeram retrocesso e acentuaram a desigualdade social.
O carvão faz parte da história da região, disto não há dúvida. O que não é dito é que essa prática é completamente ultrapassada e nociva. A mineração gera sequelas irreparáveis na saúde e na qualidade de vida dos moradores, em função da poluição gerada pela atividade. Além disso, as explosões com dinamite também causam danos em residências e estragos nas ruas das cidades, prejudicando majoritariamente os bairros e comunidades mais pobres. E claro, sem contar os diversos acidentes com trabalhadores que eram comuns em um passado recente.
Hoje, o que temos a nossa frente é um grande absurdo: diante de todos os problemas que a mineração traz para a sociedade, está eminente a abertura de uma nova mina, a Mina Guaíba, nas proximidades da região carbonífera e região metropolitana. Sem nenhum debate amplo e público, a companhia mineradora está ignorando absurdamente todos os indícios de um desastre ambiental – já conhecidos por nós, butiaenses.
É dever de todos mostrarmos o quanto a continuidade da mineração de carvão é prejudicial para a vida de toda a comunidade. Não podemos deixar que haja mais destruição de ecossistemas, nem que mais áreas sejam danificadas por detonações. Uma empresa não pode deixar um rastro de estragos permanentes, desrespeitando os cidadão, em troca do lucro e mascarados por um lobby que vende a atividade como sinônimo de progresso.
A região carbonífera sofre e ainda sofrerá todos os reflexos do fracasso da mineração, e esse é o momento de dizer NÃO a Mina Guaíba. A abertura de uma nova área de exploração no estado irá atingir várias regiões, além de colocar em risco o parque do Delta do Jacuí, trazendo ainda mais retrocesso. Não podemos deixar que outras regiões sejam descaracterizadas e sofram como a região carbonífera vem sofrendo há décadas. Afinal, a mineração faz parte do passado, e nesse momento precisamos olhar para o futuro!
*Léo Gomes é morador do município de Butiá e membro do Movimento Grêmio Antifascista