Teia dos Povos em Pernambuco
Assim como nascem os rios da junção aos poucos de muitas partes e fluxos, encontros e re – encontros de diversas águas, nós enquanto Teia dos Povos em Pernambuco nascemos dos nossos encontros e re – encontros em torno da grande luta: por terra e território. Entre os dias, 18, 19 e 20, estivamos dando um passo importante, no território Quilombola de Castainho, no agreste pernambucano, e este foi resultado de um período de fortalecimento e aglutinação em torno deste grande sonho: a construção de uma aliança entre os povos pretos, indígenas e populares para discutir e construir autonomia e bem viver, em defesa da vida, de nossas vidas, da mãe terra.
Neste período, tão importante para a luta e resistência afrobrasileira, estivemos na terra de descendentes diretos de Zumbi realizando o Encontro da Teia dos Povos em Pernambuco. Lá reiteramos e fortalecemos a aliança preta, indígena e popular que nos trouxe até aqui à revelia de todos os massacres, opressões e injustiças operadas pelo colonialismo burguês eurocêntrico à serviço do capitalismo e a sua criação infinita de valores e mercadorias.
Nos inspiramos em Palmares, em suas lições de coragem, rebeldia e compromisso com a justiça e a liberdade, na luta por Terra e Território e pelo direito de estar e ser quem somos, com nossa ancestralidade, costumes, tradições. Em Castainho não é diferente, homens e mulheres lutam todos os dias na defesa de sua terra e cultura, para viver bem. Sendo um espaço de aprendizado, onde nos educamos em uma conversa despretensiosa durante um café pequeno, ou durante os momentos de escuta atenciosa dos mais velhos, sob uma gameleira plantada há 10 anos, por irmãos da luta indígena, hoje simbolo dessa aliança ancestral e espiritual de nossos povos. O quilombo nos acolheu e testemunhou o nascimento de uma tessitura que já vem dando bons frutos, em um entrelaçar de gente, um cruzamento de terreiros, encontro de territórios.
Sob o ritual sagrado, iniciamos o encontro para abençoar e iluminar os caminhos do que viria a ser tecido, selamos os pactos de cuidado e convivência coletiva, partilhamos responsabilidades e aprendemos um pouco da trajetória de luta dos povos presentes e sua luta constante para manutenção de seus territórios. Estivemos em mutirão em todas as tarefas, cozinha, limpeza, cuidado, além disso, estivemos junto ao grupo de mulheres guerreiras quilombolas do Castainho, em um mutirão em que aprendemos sobre um trabalho de grande importância que executam em sua comunidade: coleta e separação de resíduos sólidos para reciclagem. Paralelamente, sob a sombra da gameleira mãe que nos recebeu, ouvimos Mestre Joelson, conselheiro e membro fundador da Teia dos Povos, e pudemos também aprender sobre o fortalecimento territorial por via da autonomia, à exemplo do cultivo do cacau para produção de chocolate, desenvolvido no Assentamento Terra à Vista no sul da Bahia.
Com a presença de mais de dez territórios com suas representações, movimentos sociais e várias organizações da sociedade civil, além de pessoas com diferentes acúmulos políticos no propósito de atuar como elos e/ou fundamentar seu processo de territorialização. Representação do povo Xukuru do Ororubá em Pesqueira; do Sítio do Serrote Preto no Catimbau; do povo Pankará de Brigída do Sertão do São Francisco; do assentamento Sítio Ágatha em Tracunhaém e do Normandia em Caruaru; das comunidades urbanas do Caranguejo Tabaiares, Ibura, GRIS, Cabras, Caranguejo Uçá; além da Teia dos Povos de São Paulo; e do próprio Castainho. Todos trazendo seus desafios e conquistas no processo de resistência territorial e luta pelo direito de ocupar a terra, enfrentando o poder econômico cada vez mais ostensivo sobre os modos de viver das comunidades.
Findamos nosso encontro, através da proposta de articulações regionais sob as especificidades de cada bioma: sertão, agreste, mata e região metropolitana no litoral, cujas pessoas e territórios se integrariam alinhando demandas e possibilidades segundo a região que habitam, circulam e semeiam seus sonhos. As articulações regionais fizeram suas partilhas coletivas e cada uma encaminhou formas de dar continuidade a esses encontros e trocas. Culminando em uma celebração em honra ao 20 de novembro, saudando os que fortaleceram o passado, lutaram no presente e sonharam o futuro para nossa gente.
Os grupos se debruçaram sobre os próximos passos e deliberamos por próximas ações, em territórios diversos em todo o estado. Confiantes na potência de nossos rezos, cantos e encantos, das manifestações ancestrais de nossa luta, firmamos o compromisso de estar juntas a todes aqueles e aquelas que lutam por justiça, terra Y liberdade!
Garanhuns, 20 de Novembro de 2022.