1.700 demissões em uma semana: empresários gaúchos do setor calçadista passam a conta da crise para os trabalhadores

Só no RS já são 4,7 mil demissões desde o final de março; no país, números chegam a 17 mil

Foto: Reprodução/Facebook

Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) divulgados no início desta semana, houve um aumento de duas mil demissões no setor somente na última semana em todo o Brasil, passando de 15 mil para 17 mil os trabalhadores afetados pelos efeitos da crise econômica provocada pelo Coronavírus. Os dados, que vêm sendo monitorados por um comitê de crise criado pela entidade, apontam que o Rio Grande do Sul é o estado com o maior número de demissões (4.784 desligamentos), seguido por São Paulo (3.070) e Minas Gerais (2.964). Destas mais de 4.700 demissões, 1.700 ocorreram somente na última semana.

Em falas como a do presidente executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, assim como do presidente do Sindicato da Indústria de Calçados (SICTC), Joel Klippel, a justificativa para as demissões em massa seria o enfraquecimento na demanda e o medo dos empresários do setor em se endividarem. Contudo, as empresas não esclarecem sequer se houve o interesse em aderir aos programas federais de combate ao desemprego, como as linhas de crédito para financiar as folhas de pagamento. Ao alegarem que somente o aquecimento do mercado pode devolver as vagas de emprego fechadas, as empresas parecem esquecer que esse mesmo aquecimento depende de consumidores com uma fonte de renda garantida.

Gigantes do setor, Usaflex e Beira-Rio já demitem mais de 1 mil pessoas

A empresa de Igrejinha, que conta com filiais em Campo Bom, Dois Irmãos, Parobé e Três Coroas, anunciou ainda no final de março a demissão de 500 trabalhadores – em torno de 15% do quadro funcional. A marca, que tem projeção nacional e já colocou dinheiro para anunciar em quatro edições do Big Brother Brasil, da Rede Globo (especula-se que o valor cobrado para patrocínio por anunciante ultrapasse os R$ 42 milhões), anunciou uma nova leva de demissões esta semana. Em nota, a Usaflex respondeu dizendo que pretende analisar recontratar funcionários no futuro, quando considerar a situação econômica mais favorável.

Já a Beira-Rio, empresa fundada também em Igrejinha, mas que conta hoje com sua matriz em Novo Hamburgo e consta como uma das maiores indústrias de calçados do país (com mais de 10 mil empregados diretos), anunciou, em março, a demissão de mais de 700 funcionários após incêndio na sua unidade de Mata Leitão-RS, no Vale do Taquari. Este não é o primeiro incêndio no histórico da empresa: em 2014, a unidade situada no município de Taquara-RS, próximo a Igrejinha, também teve suas atividades encerradas após incêndio que destruiu as instalações da indústria.

Entretanto, o número de desempregos provocados por estas empresas deve ser ainda maior. Como a cadeia produtiva do calçado não está centralizada somente nas grandes empresas, e sim distribuída por uma série de fábricas menores responsáveis por partes da produção do calçado, a tendência é que, indiretamente, os postos de trabalho fechados pela racionalidade administrativa desses empresários seja ainda maior.