Vila Boa Esperança comemora o fim da reintegração de posse

Na quinta-feira (05/12), no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB RS) aconteceu o debate ‘Como foi extinta uma reintegração de posse: a luta da Vila Boa Esperança’, evento organizado pelo Coletivo Ambiente Crítico e o GAJUP (Grupo de Assessoria Justiça Popular). A atividade contou também com presença de representantes da comunidade e tornou pública a vitória da Vila Boa Esperança, que conseguiu derrotar a reintegração de posse movida pela UFRGS desde 2016.
No evento, a Resistência Popular Comunitária lançou uma carta saudando a vitória da comunidade. Leia à seguir:  
É com imensa alegria que saudamos a vitoriosa luta da comunidade da Vila Boa Esperança!
Desde o início de 2017, a Resistência Popular se colocou ao lado da comunidade, com a nossa militância de corpo presente e também com a cobertura através da rádio comunitária A Voz Do Morro e o jornal Repórter Popular. Na época, em uma carta assinada [1] por dezenas de organizações, movimentos e coletivos de Porto Alegre, nos comprometemos a lutar ombro a ombro com a comunidade e barrar a ação autoritária da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A partir daí foram mais de dois anos de muita persistência dos moradores, representados por uma associação comunitária combativa e apoiados por uma rede companheiros que fizeram parte do Comitê de Solidariedade à Vila Boa Esperança, da qual nos orgulhamos de ter ajudado a impulsionar.
Denunciamos as contradições de uma universidade que no discurso, afirma dialogar com os setores populares, mas, na prática, nega diálogo com as comunidades do entorno. Durante o evento de Portas Abertas de 2017, a Universidade amanheceu tomada por cartazes que questionavam: “Portas Abertas pra quem?”. Na ocasião, a comunidade da Boa Esperança tomou o pátio da UFRGS e mostrou sua voz para centenas de pessoas, que visitavam a dita melhor universidade do país [2]. A partir daí foram vários atos de pressão e constrangimento à reitoria [3], panfletagens, reuniões com a comunidade acadêmica e autoridades, além do apoio mútuo entre outras comunidades que enfrentavam a mesma luta. Nem os tiros, as bombas e a patrola que atacaram a Vila Colina e a ocupação Lanceiros negros nos fizeram perder a “Boa Esperança”, que esteve lá prestando solidariedade a essas ocupações, provando que não se tratava de defender apenas a moradia de 98 famílias, mas de defender um direito básico que é negado a milhares de pessoas. Ironicamente, no
mesmo ano, a UFRGS premia a ação dos incansáveis companheiros do GAJUP (Grupo de Assessoria Justiça Popular) em defesa da Vila Boa Esperança no Salão UFRGS. Ao receber a premiação, uma companheira ergueu um cartaz em pleno salão de atos lotado que dizia “Vila Boa Esperança Resiste!” [4]. E resistiu. Intimidado com o cartaz, o REItor Rui Vicente Oppermann chegou a empurrar estudantes e cancelou até a foto oficial do evento. Essa mesma figura, que quando era questionada sobre a pauta alegava que era apenas uma agitação de estudantes anarquistas foi obrigado a recuar frente a mobilização da comunidade organizada.
O que essa experiência nos ensina é uma verdadeira prática de extensão popular, numa aliança entre os moradores e estudantes, fazendo valer os direitos da população. Reconhecemos a enorme importância que o
GAJUP – SAJU/UFRGS, o Coletivo Ambiente Crítico e outros grupos acadêmicos tiveram nesse processo apoiando tecnicamente a comunidade, além da Resistência Popular Estudantil – Porto Alegre e outros coletivos, diretórios e centros acadêmicos que deram vida ao Comitê de Solidariedade, tornando visível essa pauta dentro dentro dos muros da UFRGS. E também não podemos deixar de repudiar a tentativa de criminalizar essa luta por parte da direção de alguns institutos e a omissão da maior parte das organizações do movimento estudantil a respeito dessa pauta.
A primeira batalha foi vencida com o fim da reintegração de posse! Agora podemos respirar aliviados sem medo de que a tropa de choque e patrolas invadam a comunidade trazendo o terror. Mas muitas lutas ainda virão, pela regularização fundiária da comunidade agora sob responsabilidade da Secretaria de Patrimônio da União (SPU). O caminho para a vitória se provou ser a luta.
SÓ A LUTA MUDA A VIDA!
PELA REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DA VILA BOA ESPERANÇA!
LUTAR, CRIAR, PODER POPULAR!
Resistência Popular Comunitária, 05 de dezembro de 2019
[1] https://www.facebook.com/notes/a-voz-do-morro/carta-de-solidariedade-%C3%A0-vila-boa-esperan%C3%A7a/697059233807835/
 
[2] https://www.youtube.com/watch?v=_x73RqOl_vY&feature=youtu.be&fbclid=IwAR3mZdKIaKnhN5S9MhqIP5G9pm_iXi3fhP-NOBQjgqzbRAOs7puZm_4kRYQ
 
[3] https://reporterpopular.com.br/moradores-da-vila-boa-esperanca-realizam-ato-nesta-terca-feira/
 
[4] https://reporterpopular.com.br/vila-boa-esperanca-e-premiada-mas-reitor-nao-retira-pedido-de-reintegracao-de-posse/