Víctor Jara: cantor popular assassinado pela ditadura chilena - Repórter Popular

De Claudio Reis

Já ouviu falar em Víctor Jara? Então guarda alguns minutos para conhecer um pouco deste artista popular. O texto abaixo está repleto de entradas para músicas e outras informações. Se preferir, pula a escrita e vai direto às entradas que o texto disponibiliza. Ao final, há entradas para vários documentários, nos quais se pode aprender muito sobre Víctor, suas canções, sua luta e sua história! Ademais, se aprende sobre a própria história latino-americana, suas belezas e seus horrores!

Quem foi Víctor Jara

O compositor de Luchín nasceu em 1932 na antiga província de Ñuble, no Chile. Filho de camponeses, seu pai, Manuel Jara, se dedicava a tarefas do campo. Sua mãe, Amanda Martínez, além de se dedicar aos trabalhos domésticos, tocava violão e cantava. Por necessidades familiares, Víctor se viu obrigado desde criança a ajudar a família em trabalhos no campo. Também, desde criança, teve contato com a música, influenciado por sua mãe.

Intérprete de A Desalambrar (da autoria de Daniel Viglietti, que a canta neste vídeo, ao vivo, em 1983, na Nicarágua), Víctor dirigiu diversas obras de teatro e produziu diversos discos musicais. Ele foi diretor artístico do grupo Quilapayún entre 1966 e 1969, e até 1970 atuou como solista na Peña de los Parra, criada pelos irmãos Isabel e Ángel Parra, filhos da célebre folclorista Violeta Parra. Tanto Quilapayún quanto a Peña de los Parra constituíram movimentos importantes na incipiente Nueva Canción.

O projeto musical de Víctor foi fortemente influenciado por Violeta Parra. De fato, muitos consideram Violeta como precursora da Nueva Canción Chilena, da qual Víctor fez parte. Ao final do pequeno vídeo abaixo, ele destaca que “Violeta marcou o caminho e por aí seguimos”.

No entanto, o cantor que, em 1971, produz um álbum e uma música intitulados El derecho de vivir en paz, dois anos depois é torturado e assassinado pela ditadura chilena.

Seu assassinato e a condenação de nove militares envolvidos

O golpe militar se instala no dia 11 de setembro de 1971. Nesse mesmo dia, a Universidad Técnica del Estado é sitiada pelos militares. Nela se encontram Víctor Jara e vários outros professores, alunos e técnicos administrativos. No dia seguinte, eles são levados pelos militares ao Estadio Chile (hoje Estadio Víctor Jara), convertido em centro de detenção. Víctor é então reconhecido pelos militares e separado do resto dos prisioneiros, onde foi permanentemente torturado. Em 16 de setembro, todos os detidos são levados ao Estadio Nacional, à exceção de Víctor Jara e Littré Quiroga, que são então assassinados. O informe de autopsia relata que o corpo de Víctor recebeu pelo menos 44 impactos de bala.

Somente em 4 de julho deste ano (2018), houve a condenação dos militares diretamente envolvidos. Hugo Sánchez, Raúl Jofré, Edwin Dimter, Nelson Haase, Ernesto Bethke, Juan Jara, Hernán Chacón e Patricio Vásquez foram condenados com penas de 15 anos e um dia enquanto autores dos assassinatos de Víctor Jara y Littré Quiroga. Além disso, foram sentenciados a mais três anos de prisão, enquanto autores do delito de sequestro de ambas as vítimas. O ex-oficial Rolando Melo foi sentenciado a cinco anos e um dia de prisão como encobridor dos homicídios, e 61 dias como encobridor dos sequestros.

Este vídeo de 1 minuto relata a condenação histórica dos nove militares condenados pelo assassinato de Víctor:

Espera-se que essa condenação possa contribuir para abrir o debate sobre as demais vítimas da ditadura cívico-militar chilena, no entendimento de que todos os casos são igualmente importantes e que não deve haver tratamentos privilegiados, o que é plenamente coerente com o compromisso político e moral de Víctor Jara. Nesse contexto, precisamos entender que o assunto não compete apenas à família das vítimas e aos juízes, mas à sociedade em seu conjunto. Precisamos reivindicar com todas nossas forças a verdade, a memória e a justiça, tanto no Chile como no Brasil (além dos demais países que sofreram nas mãos de ditaduras assassinas). Mais do que isso, precisamos ter consciência de que, infelizmente, casos como o de Víctor Jara não estão apenas no passado. Nossas atuais democracias latino-americanas continuam assassinando e torturando. É nosso dever lutar contra a violência estatal, independente do sistema político e do país em que essa violência ocorre.

Sua última apresentação

A última apresentação pública de Víctor foi gravada na Panamericana Televisión, de Lima, Peru, em 17 de julho de 1973. Em setembro, Víctor seria assassinado por militares chilenos. Abaixo está o vídeo completo de sua última apresentação:

Estas são as músicas tocadas no vídeo, com o tempo de início de cada uma:

2:35 El arado / 6:35 El hombre es un creador / 12:14 El cigarrito / 15:22 Te recuerdo Amanda / 18:53 Cuando voy al trabajo / 23:47 El derecho de vivir en paz / 28:35 Luchín / 33:42 Plegaria a un labrador / 38:23 Ni chicha ni limoná / 50:05 Aquí me quedo / 56:33 Ojitos verdes

Como diz aquele famosa frase de Che, “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a primavera inteira”! Não conseguiram extinguir a esperança e o otimismo que moviam Víctor, porque os ideais de justiça social, dignidade e poder popular que ele tanto expressou continuam presentes. A maior homenagem que podemos lhe fazer é lutar para que esses ideais sejam concretamente alcançados! Lutar contra o preconceito e a discriminação, a exploração e a dominação, a concentração de riqueza e poder!

Documentários

Os vídeos a seguir mostram um pouco da história deste grande e humilde cantor do povo latino-americano: