União Operária 1º de Maio completa 99 anos de vasto legado histórico em Alegrete (RS)

Matéria publicada originalmente no Jornal Alegrete Tudo. União Operária do Alegrete RS completa 99 anos no 1 de maio de 2024.

Anderson Correa contribui com dados da história dessa antiga organização no Alegrete e sobre esse dia de luta que é o primeiro de maio.

A União Operária foi fundada em 25 de abril de 1925 no Teatro Rio Branco, Praça XV de Novembro (atualmente Centro Administrativo Integrado Renato Mendes Jacques, na praça Getúlio Vargas). Em 1927, a União adquiriu seu espaço próprio à Rua Vinte de Setembro, 241. O prédio da sede, que existe até hoje, começou a ser construído em 1955.

Em seus primeiros anos, a União Operária foi uma entidade pluriclassista, sindical, de mútuo socorro (mutualista) e de assistência. A entidade foi fundada por trabalhadores de variados ofícios, incluindo artesãos (sapateiros, ferreiros, marceneiros), servidores públicos, comerciantes, vendedores de lenha, aguadeiros, lavadeiras e empregadas domésticas. Após a década de 1950, adotou o complemento “Primeiro de Maio”.

Entenda a origem da data

Quando no hemisfério sul estamos no outono, no hemisfério norte é a primavera. Existiu uma tradição muito antiga, dos povos do hemisfério norte, de comemorar, na primavera, o tempo do renascimento e da fertilidade.

Os trabalhadores cultivavam esse costume e é em virtude dele que, naquele hemisfério, as festas do trabalho eram realizadas próximo ou no 1º de maio. Porém, no ano de 1886, foi convocada, pelos sindicatos de Chicago (E. U. A), um conjunto de lutas operárias em defesa da jornada 8 horas de trabalho (eles trabalhavam até 17 horas por dia).

Na sequência dos protestos daquele ato restaram presos e mortos, alguns trabalhadores do movimento anarquista e sindicalistas. Como naqueles tempos havia uma grande mobilidade internacional de imigrantes, que circulavam por vários países, difundiu-se a ideia de que nos dias 1º de maio seriam feitos protestos no mundo inteiro em defesa dos direitos dos trabalhadores e em homenagem aqueles trabalhadores mortos pelos patrões e polícia.

O Movimento operário em Alegrete: a presença de imigrantes e estrangeiros (1897-1929), aborda essa história. No Brasil, no Rio Grande do Sul e em Alegrete, o 1º de maio foi difundido, logo na década de 1890, principalmente por imigrantes germânicos filiados aos partidos da social democracia alemã.

Os anarquistas também organizavam atos no 1º de maio. Os dias 1º de maio eram dias de luta e de luto, era um dia de paralisação do trabalho (greve).

Algumas organizações operárias faziam festa, piqueniques e protestos. Em Alegrete a primeira vez que ocorre atividade no Dia Internacional dos Trabalhadores foi no ano de 1898, na sede da Mútua Proteção Operária, localizada à rua Barão do Cerro Largo nº 10. Nesse primeiro ato, à noite, um trabalhador de origem portuguesa foi espancado e detido pela brigada militar (sob as ordens de João Francisco Pereira de Souza, do Cati). Provavelmente, na base desse movimento, havia muitos afrodescendentes, nesse período pós –abolição. Nesse início do movimento, na direção das entidades havia pessoas descendentes de imigrantes, como os Mallmann, Bisch e Krug.

Na década de 1920 aparecem, de forma significativa, algumas lideranças de origem italiana, espanhola, portuguesa (Bianchi, Mitidieri, Ramires, Leite) e a entidade sob a área de influência do Sindicalismo Revolucionário e dos anarquistas da fronteira. Logo no início da República, em Alegrete, existiram várias organizações de cunho operário: Mútua Proteção Operária, Centro Operário, entre outras.

No dia 25 de abril de 1925 foi fundada a União Operária, que em 1950 recebeu o complemento do nome, passado a se chamar União Operária 1º de Maio (Entidade Classista).

Existiram várias Leis que regulamentaram o 1º de Maio como Dia do Trabalho e como feriado nacional. A primeira delas é de 1925 e, na década de 1950, com as leis de feriado nacional, com a influência do trabalhismo e do getulismo, passa a ser o Dia do Trabalho um dia de festas com os patrões.

O tom de protestos ficava a cargo de alguns sindicalistas revolucionários, anarquistas e comunistas que continuavam a reivindicar o Dia Internacional dos Trabalhadores.

Sobre a União Operária existem algumas pesquisas e fontes publicadas que aprofundam um pouco sua história. O historiador Anderson R. Pereira Corrêa, professor da Unipampa – de São Borja, fez sua pesquisa no mestrado e que foi publicada em artigos e no livro Uma história operário-sindical de Alegrete, relata o início da entidade.

Ela foi fundada como uma mutualista operária, o critério de entrada era ser trabalhador, independente de etnia ou cor da pele. Seus objetivos eram prestar auxílio mútuo e o mútuo socorro, isto é, no contexto em que não havia legislações trabalhista e previdenciária, os trabalhadores se uniam, pagavam uma mensalidade e tinham direito a alguns serviços como médico, remédio, escola e funerais.

A União Operária era pluriprofissional, pois congregava os trabalhadores de diversas categorias. Era também uma entidade sindical, pois organizava lutas e protesto em defesa do interesse dos trabalhadores, como a favor da redução da jornada de trabalho, por melhores condições de trabalho e melhores salários.

Depois de 1943, com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), difundiu-se a criação de sindicatos específicos por categoria, a entidade passa por mudanças nos seus objetivos e exerce uma função recreativa, não menos importante.

É a partir de então que ela perde o caráter sindical mas continua prestando auxílio aos trabalhadores. Com as pesquisas de Márcio Sônego, na sua tese e no livro Uma introdução à História dos trabalhadores negros no Clube União Operária de Alegrete, é possível saber, que a presença de afrodescendentes ocorre desde sua fundação em 1925.

Segundo Corrêa, a presença dos afrodescendentes e outros, se deu, cada vez mais, nos idos dos anos 60 e 70, devido ao racismo na sociedade e a solidariedade entre os membros da etnia e da classe. Naquele contexto a entidade ficou conhecida como o “Clube dos Negros”.
As pessoas que não tinham os meios de produção e que eram empregadas, trabalhavam em troca de salário, era a classe trabalhadora. Faltava identificar-se e agir de forma coletiva como classe. As “comemorações” do 1º de Maio em Alegrete, assim como o Carnaval, são mais antigas que o próprio 20 de setembro (Revolução Farroupilha e Dia do Gaúcho).

Foto da sede atual da União Operária, publicada pelo Jornal Alegrete Tudo

As mobilizações do dia 1º de Maio são formas de medir a consciência de classe e a capacidade de mobilização dos trabalhadores. Nesta quarta-feira, um almoço dá posse a nova diretoria da União Operário Primeiro de Maio.

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