Na quarta-feira do dia 03/06/2020, vimos pela primeira vez em canais de comunicação abertos a mais nova medida da REItoria para enfiar goela abaixo o EaD (Ensio à Distância) na Unesp. A compra de 3.000 chips de 60TB mensais para distribuir aos estudantes que não tem acesso à internet para assistir aulas on-line. Ao lado da notícia, observa-se a sentença tragicômica que intensifica a abordagem negligente à democratização do ensino público: “Unesp investe em inclusão digital.”
Embora a divulgação tardia, essa medida não é novidade entre a comunidade Unespiana. Basta voltarmos até a reunião da CPPE (Comissão Permanente de Permanência Estudantil) do dia 19/05/2020 para analisarmos parte do processo à que essa proposta fora submetida. Na reunião em questão foi apresentada aos representantes a possível compra dos 3.000 chips como uma solução dos problemas de acesso ao EaD. Para quem não sabe, a CPPE é uma comissão estadual paritária que foi uma das conquistas da greve estudantil de 2013, para tratar sobre a implementação de políticas de permanência estudantil na Unesp com a articulação direta dos três setores (estudantes, servidores técnico-administrativos e docentes). Pois bem, um espaço feito para tratar sobre permanência estudantil que, ao invés de realizar atividades voltadas para essa pauta, sob a condução do Prof. Mário Sérgio Vasconcelos (atual coordenador da Coordenadoria de Permanência Estudantil, orgão executivo da CPPE, portanto, a comissão que movimenta o dinheiro da instituição destinado à permanência), foi priorizado que nesse momento sejam feitos debates voltados ao “progresso tecnológico” que vemos a REItoria falar desde o pacote de Reformas da Unesp. O caso é que mesmo com a oposição de docentes, fucionários e estudantes presentes na discussão, sobre essa pauta e a proposta inovadora (leia-se com irônia) de inclusão digital, o debate aconteceu e a medida passou através dos mandos de
Mário Sérgio pela COPE. Alguns dias depois até houve mais uma reunião da CPPE que pautou exclusivamente permanência estudantil; como é seu dever. Mas a discussão mais uma vez se concentrou apenas em “tapar os buracos” deixados pela implementação desesperada de aulas digitais e atividades remotas espalhadas aos quatro cantos dos 24 campi da Unesp.
Todo esse processo de aplicação da compra escancara o caráter da proposta de “inclusão digital”. Deixar de lado a preocupação relacionada à permanência dos estudantes em meio à pandemia, para pensar as possibilidades de driblar o contexto de vulnerabilidade econômica e falta de suporte psicológico em que os alunos se encontram, em favor de acelerar a concretização das Reformas da Unesp. Em outras palavras, há uma incompatibilidade proposital entre a inclusão digital e a realidade se apresenta. Comprar 3 ou 3.000 chips não faz parte da resolução de problemas relacionados ao acesso do ensino público, porque o estabelecimento do EaD é uma ameaça ao ensino público.
Os chips não são a solução, são parte do nosso problema. Quer dizer, progresso tecnológico… Ué, mas para quem e para o que?! Buscar critérios para a implementação do EaD ou propostas de como ajustar os danos causados por esse método de ensino é uma redenção à precarização da Unesp e à venda das universidades públicas às empresas de tecnologia. O exercício de reflexão que cabe a nós nesse momento é: para quem estamos prestando contas e quais são as prioridades da REItoria? Porquê pelo andar da carruagem as prioridades da Unesp não estão voltadas à população pobre, aliás, ao contrário da instituição dar preferência em assistir o povo, essa pandemia tem sido uma oportunidade para a implementação das Reformas Acadêmicas. Não há outra saída:para estudantes pobres terem direito à uma formação digna temos que barrar definitivamente o ER(ensino remoto) e o EaD, pois não serão 60TB que irão realizar as manutenções necessárias para um estudante que precisa de permanência estudantil.