Turquia ameaça invadir Rojava, mas o povo promete resistir

Frente à ameaça de invasão fascista, as forças de autodefesa estão prontas para lutar até o fim

O Estado Fascista Turco ameaça invadir mais uma vez o Norte e Leste da Síria, como indicam a escalada de ataques aéreos sobre civis e o incremento atividade de tropas no front das últimas semanas. As forças revolucionárias e democráticas têm se mobilizado para enfrentar a ameaça e convocam movimentos e organizações ao redor do mundo para manifestar a própria solidariedade.

Guerra de baixa intensidade

Enquanto tropas turcas vem sendo concentradas nas aréas previamente ocupadas (Afrin, Gire Spî e Serekaniye) o parlamento turco aprovou a extensão de poderes presidenciais para operações militares além das fronteiras (com validade para os próximos dois anos). O governo Erdogan pode buscar resolver a própria crise interna (econômica e política) e se recuperar do fracasso das operações militares contra a guerrilha curda nas montanhas, através de uma nova aventura militar, valendo-se da sua superiodade aérea para apoiar suas gangues de mercenários jihadistas, em muitos casos ex-membros do “Estado Islâmico”.

Tal situação é a continuação da guerra suja empreendida pelo Estado Fascista Turco contra a Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria e a proposta do Confederalismo Democrático. Enquanto drones sobrevoam e atacam famílias e estruturas da sociedade que apoiam a Revolução, o embargo estabelecido sob o silêncio das potências e da ONU impede o desenvolvimento da região que sofre com a falta de materiais de primeira necessidade. Já fazem 296 dias que a Turquia vem cortando a água dos rios, gerando um intensa crise de falta de água para a população e cometendo um sério crime de guerra.

Autodefesa popular

O porta-voz das YPG1 Nuri Mahmoud, declarou para a Agência de Notícias do Eufrates (ANF) que importantes lições foram aprendidas com as invasões precedentes e que agora estão prontos para usar “novas estratégias e táticas para conter um possível ataque” contra a superioridade tecnólogica e aérea. Declarou também que:

“O povo de Rojava e do norte e do leste da Síria fez grandes sacrifícios. Durante o processo revolucionário, mostrou uma grande coragem para proteger a honra e os objetivos da revolução e, assim, conquistou grandes vitórias contra o terror. Um povo que combateu a guerra popular revolucionária desta forma não tirá parar até que alcance a liberdade e garanta a proteção de seus valores. Nosso povo fará o que for necessário contra a ameaça do presidente turco que quer estabelecer seu sultanato aqui. Nossas forças, as YPG / YPJ e as HSD2, foram criadas pela vontade do povo, e é essa vontade que nos sustenta. Nosso povo deve se organizar a partir dessa realidade e construir uma vida digna e livre”.

O Movimento de Mulheres e a Juventude Revolucionária também tem se mobilizado para enfrentar tais ataques e ameaças, tomando as ruas de diferentes cidades e se preparando para o esforço de guerra popular revolucionária em caso de necessidade.

A Comandância das YPJ lançou um comunicado em que celebrou a memória da comandanta Sosin Bîrhat (que caiu mártir no ataque turco em Til Temir em 20 de agorsto), afirmando que “As mulheres devem se organizar com suas próprias forças em um momento em que a mentalidade assassina mata as mulheres em casa, almeja-as nos campos de luta e tenta destruir a existência, o conhecimento e a vontade das mulheres.” E concluiu convocando  “todas as mulheres curdas, árabes, armênias, siríacas, sírias, do Oriente Médio e do mundo a se unirem e se organizarem em torno da Revolução Rojava e da luta pela liberdade para realizar um Confederalismo Democrático.”

Reação internacional

Muitas manifestações de solidariedade tem ocorrido na Europa e em outros países para impedir esse ataque e buscando uma solução pacífica que garanta a existência das conquistas da revolução e as estruturas do Confederalismo Democrático.

A campanha Riseup4Rojava convocou organizações, movimentos e pessoas para os dias de ação internacional contra o fascismo turco nos dias 26, 27 e 28, lembrando o forte espírito e mobilização internacionalista durante a batalha de Kobanê e as precedentes invasões turcas.

O parlamento Catalão aprovou no mês passado o reconhecimento oficial da Administração Autônoma do Norte e Leste da Síria, mas até agora não houveram outros reconhecimentos e se mantém a exclusão da AANLS nas conversas de paz para a Síria. Mantém-se a postura ambígua dos EUA e Rússia frente as ameaças turcas, assim como do regime Assad, que busca usar tal situação para chantagear a AANLS a ceder sua autonomia.

O comandante das Forças Democráticas da Síria Baz Cindirês declarou a esse respeito:

“No entanto, a população consegue ver a intenção política por trás disso. As pessoas do norte e do leste da Síria são altamente conscientes politicamente e não levam a sério essa forma de guerra psicológica. Elas sabem que não há para onde ir se sua casa estiver ocupada. Elas também sabem que a vida em território ocupado é a vida de escravos. É por isso que não confiam em ninguém e contam apenas com as HSD. Da mesma forma, também extraímos nossa força e moral da população. O Nordeste da Síria foi libertado pelo povo e pelas HSD juntos, e juntos continuaremos defendendo a região ”.

1Unidades de Defesa do Povo, forças de autodefesa curdas que junto com as Unidades de Defesa das Mulheres (YPJ) que protagonizaram a resistência revolucionária contra o fascismo do Daesh/Isis.

2Forças Democráticas da Síria, organização guarda-chuva das unidades de autodefesa dos diferentes grupos e etnias.

foto: cerimônia fúnebre em Qamishlo pelas vítimas de um ataque de drone turco, 11/11/2021, fonte ANHA – Hawar News Agency