TÁ CARO VIVER E PRECISAMOS FALAR SOBRE ISSO!

Editorial do Repórter Popular

Sabemos o que está acontecendo, pois sentimos no nosso dia-a-dia. Em todos os lugares temos escutado e falado sobre a mesma coisa. Nas paradas de ônibus lotadas, nossos vizinhos comentam sobre como tem sido difícil colocar em dia a dívida anotada no caderninho do mercado do bairro. É difícil admitir, mas a gente sabe: os armários da cozinha nunca estiveram tão vazios. Compramos o que precisamos e vamos economizando pra fazer durar até o final do mês.

O preço do gás, da carne e dos alimentos em geral não tem parado de aumentar e precisamos falar francamente sobre isso, pois está cada vez mais caro viver e isso tem ameaçado a dignidade de nossas famílias.

Quantas vezes precisamos pedir para uma vizinha ou familiar um pacote de massa ou uma xícara de arroz?

Quantas vezes precisamos pedir dinheiro emprestado pra correr na lotérica e evitar que a luz seja cortada?

E a passagem de ônibus? Agora está tão cara que, quando vamos duas pessoas pro mesmo lugar, acabamos chamando motoristas de aplicativos.

E todo o santo dia recebemos ligações de bancos ou lojas exigindo que a gente pague contas atrasadas, como se a gente atrasasse as contas por gosto! A verdade é que estamos todos endividados e sem crédito.

Com o preço do aluguel cada vez mais caro, a luz e água subindo todo mês, já tem vizinho se mudando pras invasões. Os movimentos sociais chamam de ocupação, por que moradia é direito de todos! Mas a verdade é que, entre pagar aluguel e colocar comida na mesa, a fome dos filhos fala mais alto. Então primeiro a gente entra no prédio ou terreno abandonado e depois descobre se é invasão ou ocupação.

E tudo isso a gente vive como se fosse um problema apenas nosso. Sentimos culpa por não saber administrar nosso dinheiro, ou vemos como uma fase ruim que nossa família está passando, mas que fazendo um extra ou trabalhando umas horinhas a mais a gente resolve. Sempre tem um jeitinho, nem que pra isso nossos filhos tenham de conciliar os estudos com um bico pra trazer um dinheirinho a mais pra casa.

Na televisão, rádios e jornais, eles querem nos fazer acreditar que esses problemas que vivemos com nossas famílias são problemas individuais, mas a verdade é que a dificuldade de cada um tem a ver com a dificuldade de todos nós. Sofremos juntos e nos querem calados.

Com frequência, recebemos denúncias sobre a falta de professores nas escolas públicas, sobre as filas que dobram a esquina nos postos de saúde e hospitais, e quando chega o verão é sempre a mesma coisa: falta da água (parece que fazem de propósito!), aumento da passagem do ônibus e falta de vaga nas creches.

Além do que pesa no nosso bolso, a violência na periferia está matando nosso povo como nunca antes na história. As balas que atingem a nossa gente, colocam o Brasil com índices de homicídio maiores do que países em guerra. Estamos falando de um genocídio, uma matança que atinge principalmente a juventude pobre e negra, e que muitas vezes é cometida pela mão da polícia.

Mas sabemos que não estamos sozinhos nessa situação. Somos um jornal feito por trabalhadores e para trabalhadores. Não somos jornalistas profissionais, somos comunicadores populares. Falamos desde nossos locais de trabalho, estudo e moradia. Temos lado, pois somos povo.

Contamos as histórias de nossos irmãos e irmãs de classe e cor que não conseguem achar emprego, da dificuldade de conseguir remédio barato para nossos familiares doentes. E também contamos histórias de luta de quando temos de ir pra rua nos manifestar. Essa é a missão do Repórter Popular: contar a nossa historia para que ninguém se sinta sozinho, e para que todos saibam que os problemas pelos quais passamos não são individuais, mas sim sociais, e que por isso precisam ser resolvidos por quem move a sociedade, o povo!

Sabemos faz tempo que promessas de melhora de vida, que se renovam a cada eleição, nunca chegam. Os políticos mentem para se eleger e não podemos confiar o destino de nossas famílias nas mãos dessa gente, que só beneficia os poderosos de sempre.

Precisamos confiar em nós mesmos! Precisamos olhar para nossos vizinhos, colegas de trabalho e estudo, e todas essas pessoas que vemos de manhã cedo nos ônibus indo trabalhar e saber que NÓS SOMOS A FORÇA QUE MOVE O MUNDO E POR ISSO MERECEMOS VIVER COM DIGNIDADE.

Diante disso, mais do que contar histórias, nós queremos produzir encontros, para pensarmos saídas para a situação difícil em que os políticos nos colocaram. E que tal ler essa carta em voz alta? Quem no seu trabalho, escola ou bairro você irá chamar para conversar sobre os problemas que o aumento do custo de vida vem trazendo para sua família? É hora de superar o isolamento, pois, se sofremos juntos, precisamos lutar juntos!

Se você leu essa carta, junte duas ou três pessoas no seu intervalo do trabalho, da aula ou nas ruas do seu bairro, converse com elas e pensem no que fazer; pense em ações e mobilizações coletivas para lutarmos por uma vida digna. O povo do Chile, do Equador e do Haiti são exemplos bem próximos de iniciativas de apoio mútuo e mobilização coletiva para enfrentar na prática o aumento do custo de vida provocado pelas políticas econômicas dos atuais governos.

O QUE PODEMOS FAZER?

Fazemos algumas sugestões, que podem e devem ser enriquecidas e melhor pensadas nas reuniões que você e seus vizinhos e colegas irão fazer.

– Mutirões de ajuda mútua;
– Caixas coletivos para ajudar um vizinho ou vizinha desempregado;
– Cooperativas de consumo;
– Reuniões e encontros coletivos para conversar sobre os problemas que temos em comum;
– Estudar coletivamente por que a vida tá ficando mais cara e quem tá lucrando com isso;
– Manifestações públicas coletivas (caminhadas, ocupações, paralisações) para pressionar os governos e exigir que nossos direitos sejam garantidos e que não sejamos nós, o povo, a pagar a conta dos ricos e poderosos.

Quer nos contar sobre iniciativas de apoio mútuo e de luta popular que você e seus colegas de trabalho, de escola ou de bairro estão vivendo? Grave um vídeo, tire algumas fotos e nos escreva!

Contato: www.facebook.com/reporterpop/

Repórter Popular