SETOR PÚBLICO REÚNE DEZENA DE MILHARES CONTRA REFORMA TRABALHISTA NA FRANÇA

Texto por Cris Castro, militante da Resistência Popular Sindical

ÊXITO PONTUAL | é o que vem representando a jornada de mobilizações iniciada dia 22 contra o plano do presidente Emmanuel Macron (LaREM)* para reformas trabalhistas de longo alcance. Explico: nas 180 cidades onde houve atos convocados pelas 7 centrais ligadas ao funcionarismo público, contabilizou-se mais de 500 mil manifestantes. Em Paris, a greve geral convocada nesta terça (27) pela Central Geral do Trabalho (CGT), União Sindical Solidária (SUD), União Nacional dos Sindicatos Autônomos (UNSA), Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), contou com a adesão de 25 000 trabalhadoras e trabalhadores da rede ferroviária, tomando parte do movimento, 50 % do magistério (educação primária) e fração expressiva de técnicos hospitalares. Em Bordeaux, no sudoeste francês, os funcionários das 20 agências de correios seguem há mais de 15 dias paralisados. Também estiveram compondo o grande ato na “cidade das luzes”, trabalhadores do setor privado da indústria química e metalúrgica, aposentados e pensionistas, assim como o movimento estudantil.

FIO CONDUTOR | apesar das consignas nas ruas corresponderem ao conjunto de anseios e pautas de cada setor, há uma linha reivindicatória comum contra a previsão de corte de 120 mil postos de trabalhos para os próximos quatro anos, privatizações, congelamento salarial e precarização sistêmica. Com efeito, na medida em que cresce a impopularidade do governo, a presença de delegações do setor privado enfatizam a selvageria das políticas patronais (ataque aos direitos, fechamento de empresas e programa de demissões; facilitandopor outro lado, a carga tributária do empregador (abolição do imposto sobre a fortuna, taxa fixa de 30% sobre o lucro de capital ).

MEDIDAS OFENSIVAS | no intuito de evitar a convergência das lutas e isolar os distintos setores, o ex-Inspetor Geral de Finaças do país prevê acelerar a tramitação do decreto-lei mirando o estatuto público e um regime de pensões específicos de que gozam os funcionários da Companhia Ferroviária Nacional (SNCF), além de uma série de encontros “pedagógicos” – leia-se cabrestológicos – com suas lideranças sindicais.

UMA JANELA SE ABRE | ante o evidente fracasso de um modelo econômico e o ascenso da direita identitária, movem-se os processos de resistência de base popular. Talvez o infante ainda esteja em estágio uterino mas, há quem diga que é um útero com visor, de onde com mero golpe de vista, vislumbra-se senão o motor de luta, mas seguramente a possibilidade de um movimento unitário contra os dispositivos de ajuste do Estado.

*LaREM – La Republique em Marche! ( A república em Marcha; partido político)

Imagem: Frente estudantil. Créditos: Nicolas Tucat/AFP/Getty.